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Trata-se  de duas trilogias sendo que a primeira (Os sete contra Tebas) era a última e a única que se preservou integralmente. A primeira peça intitulava-se Laos e, a segunda, Édipo, cujo enredo veio a ser reconstituído a partir apenas de fragmentos, não permitindo, portanto, encenação. A segunda trilogia, inteiramente preservada (Oréstia) compreende estas peças:Agamenon; Os Coéforos (portadores de oferendas aos mortos) e OsEumênides (espírito dos mortos). Ambas as trilogias estão dedicadas às duas famílias malditas (Labdicidas e Atridas), constantes da mitologia grega, cuja saga incendiou a imaginação dos grandes dramaturgos.

A lenda da família Labdicida foi grandemente popularizada no Ocidente pela presença de Édipo, sobretudo no século XX, personagem que foi adotado pela psicanálise como uma espécie de arquétipo do problema sexual masculino no seio da família.

Resumidamente, a lenda é a seguinte: Laos, que devia herdar o trono de Tebas, envolve-se numa relação amorosa com um rapaz, desaprovada pela divindade, que o amaldiçoa. Como punição ao suicídio do rapaz, os deuses mandam para Tebas uma Esfinge que matava a quem não desvendasse o enigma que propunha. Era parte da maldição que Laos, tornado rei e casando-se com Jocasta, não tivesse filhos. Como violou a proibição, gerando a Édipo, foi advertido por um oráculo de que seria morto pelo filho e que este desposaria a mãe. Temeroso do desfecho, abandona a criança numa montanha, de onde viria a ser recolhida e criada pelo rei de Corinto. Adulto, Édipo dirige-se a Delfos(1) para desvendar o mistério do seu nascimento. Sabedor de seu destino e evitando regressar a Corinto, onde se achava quem supunha fosse seu pai, no caminho disputa com uma pessoa e o mata. Era Laos. Nas portas de Tebas, decifra o enigma da Esfinge, livrando a cidade dos males que vinha acarretando. Em recompensa, os tebanos o escolhem rei e casa com a viúva de Laos, Jocasta, sua própria mãe. Do matrimônio nascem dois filhos (Eteocle e Polinice) e duas filhas (Antígona e Ismênia). A descoberta de Édipo de seu parricido e incesto leva-o a cegar-se. Banido de Tebas, leva uma vida errante, guiado por Antígona e morre em Colônia, nas proximidades de Atenas. Jocasta enforca-se. O assédio de Tebas, que é o objeto da peça que nos chegou íntegra, é parte da maldição. Os filhos de Édipo disputam entre si e morrem.

Os três grandes dramaturgos gregos que chegaram até nós exploraram essa lenda. Contudo, como não tivemos acesso ao conjunto de sua obra, para o Ocidente Sófocles é que teria explorado amplamente a situação descrita, à vista de suas peças que se preservaram na íntegra.

A outra família maldita, os Astridas, é o tema da Oréstia. Os dois mais importantes representantes dessa família são Agamenon e Menelau, filhos de Atré. A maldição começa com este último e expressa-se no ódio que devota ao irmão (Tieste).

Agamenon, filho de Atré e irmão de Menelau, rei lendário de Mecenas e Argos, assume o comando das tropas gregas que devem atacar a Tróia. A guerra de Tróia, a que está dedicado o poema épico de Homero, fora motivada pelo fato de que Páris seduzira e roubara a mulher de Menelau (Helena) levando-a para aquela cidade. O comando da expedição fica com Agamenon, irmão do ofendido. Devendo cruzar o mar para chegar a Tróia. Agamenon defronta-se com os ventos contrários que impedem o deslocamento dos navios. A conselho do divino Cachás, sacrifica a filha Ifigênia, a fim de apaziguar a divindade que o estava impedindo de mover-se (Artemis). Em seu retorno de Tróia seria assassinado pela mulher (Clitmenestra), com a ajuda do amante (Egisto), supostamente para vingar a filha e preservar o amante. O casal tinha ainda dois outros filhos: Orestes e Electra. Para vingar o pai, Orestes mata a mãe, desencadeando ferozes manifestações dos deuses.

Além de Oréstia, de Ésquilo, entre os dramas sobreviventes de Sócrates existe aquele dedicado a Electra. Contudo, esta lenda seria explorada mais amplamente por Eurípedes, naturalmente considerando o que se preservou.

A primeira peça (Agamenon) tem por objeto a morte do herói. Intervêm Clitmenestra (esposa), Egisto (amante) e Cassandra. Esta, filha do último rei de Tróia (Priamo) recebera o dom de prever o futuro, que recusou. Ao fazê-lo, foi castigada deste modo: continuava prevendo o que iria acontecer mas ninguém nela acreditaria.

Considera-se que a inovação, introduzida por Ésquilo, consiste em destacar o remorso de Clitmenestra (Os Coéforas). Na tradição lendária discutia-se sobretudo se pretendera vingar a filha ou preservar o amante. A peça descreve a vingança de Orestes (morte da mãe) e a perseguição que lhe movem os Erinies (deuses da vingança). Os Eumênides trata do julgamento de Orestes. Os estudiosos costumam assinalar que a singularidade dada por Ésquilo ao tratamento do tema consiste em haver introduzido a presença dos juízes da cidade (Aerópago). Na lenda, este era um assunto adstrito exclusivamente aos deuses. (Ver também ÉSQUILO e SÓFOCLES).


(1) Delfos era um grande centro religioso na Grécia Antiga, onde existia o tempo de Apolo, sede de importantes festejos. Os oráculos de Delphos, que falavam pela boca de uma pitonisa (sacerdotisa), gozavam de enorme audiência.