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Dicionário das Obras
Básicas da
Cultura Ocidental
Antonio Paim
Índice: a - b - c - d - e - f - g - h - i - j - k - l - m - n - o - p - q - r - s - t - u - v - x - w - z
(Os)
Sete contra Tebas e Oréstia,
de Ésquilo
Trata-se de duas trilogias
sendo que a primeira (Os
sete contra Tebas) era a última
e a única que se preservou
integralmente. A primeira peça
intitulava-se Laos e,
a segunda, Édipo,
cujo enredo veio a ser reconstituído
a partir apenas de fragmentos,
não permitindo, portanto,
encenação. A segunda
trilogia, inteiramente preservada
(Oréstia) compreende
estas peças: Agamenon;
Os Coéforos (portadores
de oferendas aos mortos) e Os Eumênides (espírito
dos mortos). Ambas as trilogias
estão dedicadas às
duas famílias malditas
(Labdicidas e Atridas), constantes
da mitologia grega, cuja saga
incendiou a imaginação
dos grandes dramaturgos.
A lenda da família Labdicida
foi grandemente popularizada
no Ocidente pela presença
de Édipo, sobretudo no
século XX, personagem
que foi adotado pela psicanálise
como uma espécie de arquétipo
do problema sexual masculino
no seio da família.
Resumidamente, a lenda é a
seguinte: Laos, que devia herdar
o trono de Tebas, envolve-se
numa relação amorosa
com um rapaz, desaprovada pela
divindade, que o amaldiçoa.
Como punição ao
suicídio do rapaz, os
deuses mandam para Tebas uma
Esfinge que matava a quem não
desvendasse o enigma que propunha.
Era parte da maldição
que Laos, tornado rei e casando-se
com Jocasta, não tivesse
filhos. Como violou a proibição,
gerando a Édipo, foi advertido
por um oráculo de que
seria morto pelo filho e que
este desposaria a mãe.
Temeroso do desfecho, abandona
a criança numa montanha,
de onde viria a ser recolhida
e criada pelo rei de Corinto.
Adulto, Édipo dirige-se
a Delfos(1) para
desvendar o mistério do
seu nascimento. Sabedor de seu
destino e evitando regressar
a Corinto, onde se achava quem
supunha fosse seu pai, no caminho
disputa com uma pessoa e o mata.
Era Laos. Nas portas de Tebas,
decifra o enigma da Esfinge,
livrando a cidade dos males que
vinha acarretando. Em recompensa,
os tebanos o escolhem rei e casa
com a viúva de Laos, Jocasta,
sua própria mãe.
Do matrimônio nascem dois
filhos (Eteocle e Polinice) e
duas filhas (Antígona
e Ismênia). A descoberta
de Édipo de seu parricido
e incesto leva-o a cegar-se.
Banido de Tebas, leva uma vida
errante, guiado por Antígona
e morre em Colônia, nas
proximidades de Atenas. Jocasta
enforca-se. O assédio
de Tebas, que é o objeto
da peça que nos chegou íntegra, é parte
da maldição. Os
filhos de Édipo disputam
entre si e morrem.
Os três grandes dramaturgos
gregos que chegaram até nós
exploraram essa lenda. Contudo,
como não tivemos acesso
ao conjunto de sua obra, para
o Ocidente Sófocles é que
teria explorado amplamente a
situação descrita, à vista
de suas peças que se preservaram
na íntegra.
A outra família maldita,
os Astridas, é o tema
da Oréstia. Os
dois mais importantes representantes
dessa família são
Agamenon e Menelau, filhos de
Atré. A maldição
começa com este último
e expressa-se no ódio
que devota ao irmão (Tieste).
Agamenon, filho de Atré e
irmão de Menelau, rei
lendário de Mecenas e
Argos, assume o comando das tropas
gregas que devem atacar a Tróia.
A guerra de Tróia, a que
está dedicado o poema épico
de Homero, fora motivada pelo
fato de que Páris seduzira
e roubara a mulher de Menelau
(Helena) levando-a para aquela
cidade. O comando da expedição
fica com Agamenon, irmão
do ofendido. Devendo cruzar o
mar para chegar a Tróia.
Agamenon defronta-se com os ventos
contrários que impedem
o deslocamento dos navios. A
conselho do divino Cachás,
sacrifica a filha Ifigênia,
a fim de apaziguar a divindade
que o estava impedindo de mover-se
(Artemis). Em seu retorno de
Tróia seria assassinado
pela mulher (Clitmenestra), com
a ajuda do amante (Egisto), supostamente
para vingar a filha e preservar
o amante. O casal tinha ainda
dois outros filhos: Orestes e
Electra. Para vingar o pai, Orestes
mata a mãe, desencadeando
ferozes manifestações
dos deuses.
Além de Oréstia,
de Ésquilo, entre os dramas
sobreviventes de Sócrates
existe aquele dedicado a Electra.
Contudo, esta lenda seria explorada
mais amplamente por Eurípedes,
naturalmente considerando o que
se preservou.
A primeira peça (Agamenon)
tem por objeto a morte do herói.
Intervêm Clitmenestra (esposa),
Egisto (amante) e Cassandra.
Esta, filha do último
rei de Tróia (Priamo)
recebera o dom de prever o futuro,
que recusou. Ao fazê-lo,
foi castigada deste modo: continuava
prevendo o que iria acontecer
mas ninguém nela acreditaria.
Considera-se que a inovação,
introduzida por Ésquilo,
consiste em destacar o remorso
de Clitmenestra (Os Coéforas).
Na tradição lendária
discutia-se sobretudo se pretendera
vingar a filha ou preservar o
amante. A peça descreve
a vingança de Orestes
(morte da mãe) e a perseguição
que lhe movem os Erinies (deuses
da vingança). Os Eumênides trata
do julgamento de Orestes. Os
estudiosos costumam assinalar
que a singularidade dada por Ésquilo
ao tratamento do tema consiste
em haver introduzido a presença
dos juízes da cidade (Aerópago).
Na lenda, este era um assunto
adstrito exclusivamente aos deuses.
(Ver também ÉSQUILO e SÓFOCLES).
(1) Delfos
era um grande centro religioso
na Grécia Antiga,
onde existia o tempo de Apolo,
sede de importantes festejos.
Os oráculos de Delphos,
que falavam pela boca de
uma pitonisa (sacerdotisa),
gozavam de enorme audiência.
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