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A característica distintiva essencial da ciência moderna consiste na introdução da medida. Expressando a mudança em relação à física aristotélica, baseada na busca do traço qualitativo distinto dos diversos corpos, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro adotou-se a seguinte divisa: “Só se pode conhecer bem um fenômenos quando é possível exprimi-lo por meio de números”. – Kelvin.(2) 

Ainda que os princípios da nova física estivessem presentes na obra de Galileu (1564/1642), sua formulação acabada seria devida a Isaac Newton (1642/1727), nos Princípios da filosofia matemática da natureza (1687). Entretanto, no que se refere à química, o processo de adoção de idênticos parâmetros seria relativamente lento. Do ponto de vista em que nos situamos, o momento mais destacado seria o aparecimento, em 1789, do Tratado elementar de química, de Antoine-Laurent Lavoisier (1743/1794). O título completo da obra incluía esta indicação: “apresentado numa ordem nova e segundo as descobertas modernas”, o que permite bem situar o propósito maior, que consistia em reorientar a pesquisa no sentido da obtenção de resultados mensuráveis. Lavoisier ainda supõe que o calor seria proveniente de uma substância autônoma, que denominou de calórico. O passo seguinte seria dado por D. I. Mendeleev (1834/1907) que elaborou uma tábua racional e lógica dos elementos (A relação entre as propriedades e os pesos atômicos dos elementos, 1869).

Lavoisier era funcionário do governo francês. Como trabalhava na repartição arrecadadora de impostos (Ferme Généralle), que num certo momento da Revolução Francesa polarizou o ódio dos radicais, foi morto na guilhotina, durante os anos de Terror, em 1794. A esse propósito, o famoso matemático Lagrange (1736/1813) avançou este comentário: “Eles precisaram apenas de um instante para cortar aquela cabeça, e uma centena de anos podem vir a não produzir outra semelhante”.

A dificuldade na constituição da química moderna advinha da longa sobrevivência da alquimia, que acalentava uma dupla finalidade: 1ª) transmutação de metais básicos em outro; e, 2ª) descoberta de um elixir que proporcionasse a vida eterna e a cura de todas as doenças do corpo. Aquela tradição perpetuou muitas idéias equivocadas cuja superação demandou muitos esforços.

Na superação daquela tradição, desempenhou um importante papel, ainda que contraditório, o aparecimento em 1723 da obra Fundamentos de química, do médico e pesquisador alemão Georg Ernst Stahl (1660/1734) Stahl proporcionou um objeto para a química (método de dividir os compostos em seus elementos e estudar a sua combinação) e, ao mesmo tempo, chamou a atenção para o fenômeno da combustão. O demérito está em que introduziu uma idéia que representava a influência das concepções antigas, a saber: a combustão adviria de um fluido, a que chamou deflogisto, e que estaria presente em toda parte, inclusive na respiração. Suas indicações serviram para levar integrantes da Royal Society inglesa a utilizar a combustão para pesquisar a composição do ar.

O abandono do flogisto e o avanço na decomposição dos elementos, distinguindo-os de forma mensurável, seria obra de Lavoisier. Descobriu que a água não se compunha apenas de “hidrogênio” (hydor, água em grego) mas também de uma substância que chamou de “principe oxygene”, que depois averiguou achar-se presente numa série numerosa de reações químicas. Assim, formulou novos princípios explicativos sem recurso ao flogisto. A pesquisa subseqüente iria demonstrar que o calor, que na obra de Lavoisier permanece como um fluido imponderável, também seria reduzido à medida. O ciclo se completa com Mendeleev. No século XX o processo consistirá na eliminação das fronteiras entre os ramos da ciência, dando surgimento, no caso considerado, à bioquímica (Ver tambémMENDELEEV).


(2) Lorde Kelvin (William Thompson), famoso físico inglês do século XIX.