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Dicionário das Obras
Básicas da
Cultura Ocidental
Antonio Paim
Índice: a - b - c - d - e - f - g - h - i - j - k - l - m - n - o - p - q - r - s - t - u - v - x - w - z
LAVOISIER, Antoine-Laurent
A característica distintiva
essencial da ciência moderna
consiste na introdução
da medida. Expressando a mudança
em relação à física
aristotélica, baseada
na busca do traço qualitativo
distinto dos diversos corpos,
na Escola Politécnica
do Rio de Janeiro adotou-se a
seguinte divisa: “Só se
pode conhecer bem um fenômenos
quando é possível
exprimi-lo por meio de números”. – Kelvin.(2)
Ainda que os princípios
da nova física estivessem
presentes na obra de Galileu
(1564/1642), sua formulação
acabada seria devida a Isaac
Newton (1642/1727), nos Princípios
da filosofia matemática
da natureza (1687). Entretanto,
no que se refere à química,
o processo de adoção
de idênticos parâmetros
seria relativamente lento. Do
ponto de vista em que nos situamos,
o momento mais destacado seria
o aparecimento, em 1789, do
Tratado elementar de química, de
Antoine-Laurent Lavoisier (1743/1794).
O título completo da obra
incluía esta indicação: “apresentado
numa ordem nova e segundo as
descobertas modernas”,
o que permite bem situar o propósito
maior, que consistia em reorientar
a pesquisa no sentido da obtenção
de resultados mensuráveis.
Lavoisier ainda supõe
que o calor seria proveniente
de uma substância autônoma,
que denominou de calórico.
O passo seguinte seria dado por
D. I. Mendeleev (1834/1907) que
elaborou uma tábua racional
e lógica dos elementos
(A relação
entre as propriedades e os pesos
atômicos dos elementos,
1869).
Lavoisier era funcionário
do governo francês. Como
trabalhava na repartição
arrecadadora de impostos (Ferme
Généralle),
que num certo momento da Revolução
Francesa polarizou o ódio
dos radicais, foi morto na guilhotina,
durante os anos de Terror, em
1794. A esse propósito,
o famoso matemático Lagrange
(1736/1813) avançou este
comentário: “Eles
precisaram apenas de um instante
para cortar aquela cabeça,
e uma centena de anos podem vir
a não produzir outra semelhante”.
A dificuldade na constituição
da química moderna advinha
da longa sobrevivência
da alquimia, que acalentava
uma dupla finalidade: 1ª)
transmutação de
metais básicos em outro;
e, 2ª) descoberta de um
elixir que proporcionasse a vida
eterna e a cura de todas as doenças
do corpo. Aquela tradição
perpetuou muitas idéias
equivocadas cuja superação
demandou muitos esforços.
Na superação daquela
tradição, desempenhou
um importante papel, ainda que
contraditório, o aparecimento
em 1723 da obra Fundamentos
de química, do médico
e pesquisador alemão Georg
Ernst Stahl (1660/1734) Stahl
proporcionou um objeto para a
química (método
de dividir os compostos em seus
elementos e estudar a sua combinação)
e, ao mesmo tempo, chamou a atenção
para o fenômeno da combustão.
O demérito está em
que introduziu uma idéia
que representava a influência
das concepções
antigas, a saber: a combustão
adviria de um fluido, a que chamou
de flogisto, e que estaria
presente em toda parte, inclusive
na respiração.
Suas indicações
serviram para levar integrantes
da Royal Society inglesa a utilizar
a combustão para pesquisar
a composição do
ar.
O abandono do flogisto e o avanço
na decomposição
dos elementos, distinguindo-os
de forma mensurável, seria
obra de Lavoisier. Descobriu
que a água não
se compunha apenas de “hidrogênio” (hydor, água
em grego) mas também de
uma substância que chamou
de “principe oxygene”,
que depois averiguou achar-se
presente numa série numerosa
de reações químicas.
Assim, formulou novos princípios
explicativos sem recurso ao flogisto.
A pesquisa subseqüente iria
demonstrar que o calor, que na
obra de Lavoisier permanece como
um fluido imponderável,
também seria reduzido à medida.
O ciclo se completa com Mendeleev.
No século XX o processo
consistirá na eliminação
das fronteiras entre os ramos
da ciência, dando surgimento,
no caso considerado, à bioquímica
(Ver também MENDELEEV).
(2) Lorde
Kelvin (William Thompson),
famoso físico inglês
do século XIX.
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