Em conformidade com a mitologia grega, Prometeu é da raça dos Titans, iniciador da primeira civilização humana. Tendo revelado aos homens o segredo do fogo, foi punido por Zeus de forma verdadeiramente bárbara. Amarrado a um monte, tinha o seu fígado devorado por uma águia. Como aquele órgão reconstituía-se sempre, o suplício jamais terminaria não viesse a ser libertado por Hércules. Essa lenda costuma ser associada a uma outra, de idêntica índole. A primeira mulher da humanidade, Pandora, torna-se esposa de Epimeteu, irmão de Prometeu. Viria a ser responsável pela disseminação do mal no mundo por haver aberto uma caixa onde Zeus trancara as misérias humanas. A expressão “caixa de Pandora”, como “caixa de maldades”, continua sendo metáfora de uso freqüente. Na mitologia grega, na caixa de Pandora somente sobrou a Esperança.
O drama de Ésquilo é parte de uma trilogia, sendo a única das três peças que chegou até nós. A segunda, cujo conteúdo viria a ser reconstituído pelos fragmentos que restaram, denominava-se Prometeu libertado, seguindo a tradição em conformidade com a qual Hércules mata a águia e o liberta. Da terceira sabe-se apenas que intitulava-se Prometeu condutor do fogo.
Na peça Prometeu Acorrentado, Ésquilo apresenta a Zeus como um tirano arbitrário, possuído pelo ódio, o que foi confrontado à forma que aparece em outras peças, acomodada às concepções de seu tempo. Para explicar o contraste, chegou-se até a negar a autenticidade da autoria de Ésquilo. Raphael Dreyfus, organizador da edição da Pléiade, ressalta entretanto que os deuses mitológicos comportam-se de fato como homens. O refinamento que faz de Zeus o ordenador do mundo e detentor da suprema justiça seria certamente o entendimento de Ésquilo como de resto da própria elite ateniense. Apresentá-lo no teatro seria uma outra questão. Ao que acrescenta: “Todos os personagens aqui são deuses...; mas conduzem-se como homens. Somente Prometeu os domina por sua altivez e desprezo; mas também por seu amor atuante da humanidade. O espírito prometêico é bem o de Ésquilo, pelo menos nesta peça.” (Tragiques grecs. Paris, Pléiade, 1967, vol. I, p. 178).
Prometeu Acorrentado não seria levado ao teatro. Seu sucesso é sobretudo literário, suscitando sempre grandes debates. O poeta inglês Shelley (1792/1822) dedicou ao tema uma de suas obras (Prometeu libertado, 1820). (Ver também ÉSQUILO).