I

O livro Imitação de Cristo foi atribuído a Tomás Hemerken (1379-1471), conhecido como Tomás de Kempis em decorrência do mosteiro a que pertencia situar-se na localidade assim denominada (Renânia, Alemanha). No mosteiro de Kempis formulou-se a chamada Devotio moderna, que se admite reflita o tipo de devoção religiosa prestigiado e apregoado na Idade Média. Consistiria no empenho de tomar por modelo a pessoa de Cristo, a fim de organizar, de forma metódica, a vida interior, graças à leitura do Novo Testamento, completada pela meditação, a oração, o exame de consciência e a prática de penitências. A fonte inspiradora seria o despojamento pregado pelos franciscanos e a mística dos dominicanos alemães. As Ordens Franciscana e Dominicana haviam sido criadas nos começos do século XIII, isto é, em torno de duas centúrias antes da elaboração da Devotio moderna e do aparecimento da Imitação de Cristo.

A obra é dividida em quatro partes (livros), tratando de Avisos úteis para a vida espiritual; Exortações à vida interior; Da consolação interior; Do sacramento do altar.

Os assuntos abordados nos primeiros dois livros referem-se ao conhecimento de si mesmo, contendo um apelo à vida interior. Da imitação de Cristo e do desapego das vaidades do mundo; Do humilde sentir de si mesmo; Dos ensinamentos da verdade; Da resistência às tentações; Da vida interior; Da pureza da mente e da intenção reta; Da consideração de si mesmo; Da alegria da boa consciência.

Esta etapa da vida espiritual é denominada, pelos místicos, da “Via purgativa”.

O terceiro livro trata: Da comunicação interior de Cristo à alma fiel; Como a Verdade fala, dentro de nós, sem estrépito de palavras; Como as palavras de Deus devem ser ouvidas com humildade e como poucos a ponderam; Dos admiráveis efeitos do amor divino; Como devemos por em Deus toda a esperança e confiança.

Esta é a chamada “Via iluminativa”, quando Deus se comunica à alma desejosa de perfeição.

O quarto livro trata da união com Deus, particularmente na Vivência da Eucaristia. Seria a chamada “Via unitiva”.

Assim, a Imitação de Cristo está voltada para a vivência religiosa pessoal, relegando a um plano secundário o compromisso dos clérigos com a missão evangelizadora do cristianismo.