Jean de La Fontaine (1621/1695) viveu no tempo de Luís XIV, quando a França registra grande esplendor literário, notadamente na tragédia (Cornele e Racine), na comédia (Molière) e no teatro. Demorou muito a que fosse admitido no restrito grupo de protegidos do Rei mas acabou por alcança-lo, após tornar-se respeitável como autor dos Contos e Novelas emversos. Contudo, o que lhe deu notoriedade seriam as Fábulas. Foi admitido á Academia Francesa em 1684, aos 63 anos.
La Fontaine fez preceder as Fábulas do elogio do poeta grego Esopo, a quem atribui a primazia no gênero. Este consiste em transmitir ensinamentos morais, valorizados pela civilização e que deveriam ser cultuados, pela voz de animais que falam. Supunha-se que o método estaria destinado a facilitar a transmissão às crianças daqueles ensinamentos. Na verdade, entretanto, os poemetos curtos tiveram a virtude de a todos encantar e, graças a isto, perpetuar-se.
As Fábulas acham-se apresentadas em dois volumes, subdivididos cada um em seis livros, nos quais varia o seu número. A primeira do Livro Primeiro intitula-se “A cigarra e a formiga” e dá o tom do conjunto. Imprevidente, preocupada apenas em cantar, a cigarra não acumulou alimentos que lhe permitissem sobreviver no inverno e apela para a formiga que recusa socorre-la, fazendo-a registrar a que se dedicara o tempo todo, após o que exclama: “Tu cantavas? Que beleza; muito bem: pois dança agora”.
As histórias da raposa são um primor de astúcia. Mas nem sempre consegue enganar aos outros bichos; somente aos mais estúpidos, como o bode. Os personagens humanos que por vezes figuram nas fábulas geralmente não se saem muito bem.
O certo é que La Fontaine conseguiu que suas histórias fabulosas não ficassem com a marca de certo tempo ou de determinado país, revestindo-se de feição universal duradoura.