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Mircea Eliade nasceu na capital da Romênia (Bucareste) em 1907. Depois de adquirir a sua formação intelectual na pátria de origem e interessando-se pelo estudo das religiões, concluiu a Universidade de Calcutá, na Índia, onde permaneceu de 1928 a 1931. De volta a Bucareste publicou seus primeiros estudos em 1935, versando a religião hindu. Durante a guerra, viveu em Lisboa, radicando-se em Paris no pós-guerra, durante muitos anos, como professor da École des Hautes Études. Finalmente deu cursos e orientou teses na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Faleceu nessa última cidade, aos 79 anos, em 1986.

Eliade é parte do movimento intelectual, iniciado por William James (1842-1910), na América do Norte, que buscou estudar a religião com vistas sobretudo ao conhecimento do próprio homem e não mais para tentar sondar em que consistiria a divindade. Criou-se assim uma nova frente de investigação devotada à experiência religiosa. Nesse particular, Eliade foi marcado em especial pela obra de Rudolf Otto (1869-1937), A idéia do sagrado, aparecida em 1917. Contudo, não quis seguir a mesma linha desse mestre, criando um novo método.

Otto utilizou o método transcendental, inspirando-se em Kant. Para este filósofo, o homem não tem acesso à realidade em si, construindo um modelo do que poderia ser aquela realidade com base em conceitos centrais, que denominou de categorias. Assim o real seria estruturado por determinadas categorias. Além disto, tais categorias não provém da experiência (designou-as como sendo a priori). O verdadeiro sentido da experiência religiosa, na visão de Otto, seria apreendido por reduzido número de conceitos a priori, entre os quais o de mistério tremendo, fascinação etc.

Eliade também aspira reconstituir a experiência religiosa mediante o emprego de alguns conceitos centrais. Contudo, nessa investigação decidiu não utilizar métodos lógico-dedutivos, preferindo fazê-lo de forma descritiva. Valeu-se do amplo conhecimento que havia acumulado não apenas das religiões ocidentais e orientais mas igualmente das religiões arcaicas, assim chamadas por não haver alcançado rigorosa elaboração intelectual, a exemplo do que se deu no induísmo ou no judaísmo.
Mircea Eliade adotou postura fenomenológica, denominação devida a seu criador, o filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938). Husserl acreditava que a partir de descrições rigorosas (e minuciosas) seria possível apreender a essência dos fenômenos, idéia que havia sido abandonada por sua proveniência aristotélico-tomista, isto é, diametralmente oposta à kantiana, vitoriosa na Filosofia Moderna. Deste modo, Husserl admitia que o conhecimento pudesse traduzir a realidade em si. Essa hipótese (fenomenológica), viria a ser aplicada a diversas esferas do conhecimento, inclusive à religião, neste caso da iniciativa de Gerardus van der Leeuw (1898-1950). Ainda assim, Eliade inovou grandemente, sobretudo porque seu estudo considerava, na prática, todas as experiências religiosas conhecidas.

Eliade deu conta de suas investigações em vasta bibliografia. Considera-se, contudo, que o inteiro teor de sua proposta esteja contida no livro O sagrado e o profano, publicado em 1954. Produziu também um amplo painel do tema a que dedicou a vida na obra História das crenças e das idéias religiosas(em três volumes). (Ver também (O) Sagrado e o profano, de Mircea Eliade; (A) Idéia do sagrado, de RUDOLF OTTO; e HUSSERL,Edmund).