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Dicionário das Obras
Básicas da
Cultura Ocidental
Antonio Paim
Índice: a - b - c - d - e - f - g - h - i - j - k - l - m - n - o - p - q - r - s - t - u - v - x - w - z
Timeu,
de Platão
Considera-se que o diálogo Timeu seria
expressivo da forma encontrada
por Platão para ultrapassar
a chamada “fase socrática” – em
que os diálogos pretendem
apenas examinar o processo de
elaboração de determinados
conceitos – e avançar
na formulação de
sua própria doutrina.
Com efeito, Timeu corresponde
a uma espécie de reapresentação
dos grandes mitos gregos relativos à criação
do mundo. Desta forma, o diálogo
conteria o que se denominou de cosmologia.
Essa disciplina sobreviveu até a Época
Moderna quando teve lugar o aparecimento
da nova física e abandonou-se
a busca de um saber da natureza
como totalidade, voltando-se
a investigação
para fenômenos limitados
(físicos, químicos
etc.). Posteriormente, o nome
veio a ser adotado para designar
hipóteses sobre modelos
do chamado “sistema do
mundo”, acerca dos quais
os próprios cientistas
não chegam a um acordo.(1)
Como em princípio a filosofia
grega consistiria justamente
num tipo de saber que abandona
a tradição mitológica
em prol do conhecimento racional,
discutiu-se muito qual teria
sido a intenção
de Platão. A chave para
a solução do enigma
encontrar-se-ia em outro diálogo – Górgias – onde
Platão coloca na boca
de Sócrates o seguinte: “Talvez
te pareça que isto se
conta como um mito; um conto
de fadas e tu o despreza. E não
seria estranho que o depreciaríamos
se investigando pudéssemos
de algum modo encontrar algo
de melhor e verdadeiro”.
O recurso ao mito corresponderia
a uma metáfora, isto é,
embora a semelhança com
o que se deseja expressar não
seja perfeita, corresponde a
uma forma válida de manifestar
o que pretendem dizer.
O certo é que a própria
doutrina do conhecimento de Platão
seria apresentada de forma mitológica
no diálogo República (o
chamado “mito da caverna”,
isto é, o lugar onde se
encontrariam as idéias
cuja visão desaparece
ao emergirmos para a claridade).
Os seres que se encontram neste
mundo seriam criação
do Demiurgo, que o fez contemplando
os arquétipos originais.
Para Platão as idéias
seriam inatas e o método
socrático consiste em
torná-las presentes à nossa
mente.
A primeira parte do Timeu apresenta
o mito da Atlântida, uma
civilização muito
evoluída que teria existido
numa ilha situada no Atlântico,
tragada pelo mar. A conversa
teria se encaminhado nessa direção
porque Sócrates partira
da afirmação de
que, nove mil anos antes, Atenas
disporia de instituições
políticas perfeitas. Naquela
altura, Atenas teria defendido
a Europa da pretensão
dos reis de Atlântida de
submetê-la. O cataclisma
que se abateu sobre aquela civilização
seria posterior à derrota
que os atenienses lhe impuseram.
A tese é a de que a cidade
ideal existira em outros tempos.
Na outra parte do Timeu descreve-se
o que seria a alma do mundo,
secionada pelo demiurgo em determinadas
proporções numéricas.
Depois disto, criou sete círculos
que os planetas foram obrigados
a descrever. Em outras etapas
intermediárias, em que
intervêm deuses subalternos,
dá-se a criação
do homem.
Timeu explica deste modo a sua demarche: “Em todas as matérias, é da
mais alta importância começar pelo começo natural. Por
conseguinte, a propósito da imagem e do modelo, há que fazer
as seguintes distinções: as palavras têm um parentesco
natural com as coisas que exprimem. Se exprimem o que é estável,
fixo e visível com o auxílio da inteligência, são
estáveis e fixas, e, na medida do possível e em que pertença às
palavras serem irrefutáveis e invencíveis, não devem deixar
nada a desejar a esse respeito. Inversamente se exprimem aquilo que foi copiado
deste modelo e que não passa duma imagem, são verossímeis
e proporcionais ao seu objeto, porque a verdade está para a crença
como o ser está para o devir. Então, Sócrates, se houver
muitos pormenores em muitas questões relativas aos deuses e à gênese
do mundo acerca dos quais não formos capazes de fornecer explicações
absoluta e perfeitamente coerentes e exatas, não te admires; mas, se
fornecermos explicações que não sejam inferiores a nenhuma
em verossimilhança, teremos de contentar-nos, lembrando de que eu, que
falo, e vós que julgais, não passamos de homens e que, em semelhante
assunto, convém aceitar o mito verossímil, sem procurar nada
mais
além.” (Ver também PLATÃO).
(1) Discute-se
questões desse tipo:
se o universo seria finito
ou infinito; se se encontra
ou não em expansão,
e assim por diante.
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