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Dicionário das Obras
Básicas da
Cultura Ocidental
Antonio Paim
Índice: a - b - c - d - e - f - g - h - i - j - k - l - m - n - o - p - q - r - s - t - u - v - x - w - z
SWIFT,
Jonathan
Jonathan Swift nasceu em Dublin, capital da Irlanda, em 1667. Era primo do poeta
inglês John Dryden (1631/1700), considerado expoente da literatura inglesa
da época, o que facilitou a sua aproximação à Corte
londrina. Ao completar a idade adulta, vivenciou o período subseqüente à Revolução
Gloriosa de 1689, início da estabilidade do Parlamento, sendo afastada
em definitivo a possibilidade de herdeiro católico assumir o trono, foco
principal da prolongada guerra civil, o que trouxe graves conseqüências
para sua terra natal. O reinado de Guilherme de Orange – 1689/1702 – é marcado
por uma forte repressão aos movimentos autonomistas irlandeses, por seus
fundamentos religiosos.(1) Swift
não se omitiu diante dessa delicada questão, como indicaremos.
Jonathan Swift adquiriu formação para tornar-se pastor da Igreja
Anglicana. Antes de concluí-la viveu em Londres, em face do agravamento
do conflito com os ingleses, em vista de que o rei católico deposto pela
Revolução Gloriosa (Jaime II organiza a resistência, com
o apoio da França, reivindicando a coroa da Irlanda. Após a derrota
militar dessa resistência, retorna à Irlanda, conclui a formação
teológica e em 1684 é ordenado diácono. Em 1700, aos 33
anos de idade, obtém posto destacado na Igreja Anglicana da Irlanda, como
presbítero da Catedral de S. Patrick em Dublin.
Como destacada personalidade religiosa, bem relacionado com os conservadores
(tories), Swift procurou contribuir no sentido de que fossem efetivadas concessões
autonomistas à Irlanda e em prol de uma política que não
acentuasse as divisões religiosas. Procurou demonstrar que o sistema tributário
aplicado aos irlandeses era injusto e discriminatório, sendo equivocada
a alegação de tratar-se de execrável maioria papista para
justificá-lo. Ao tema dedicou algumas obras que, embora bem acolhidas
pelo público inglês, não tiveram o poder de alterar a política
em curso. Em 1720 apresentou um programa destinado a estimular o uso de produtos
manufaturados provenientes da Irlanda e, em 1724, The Drapier’s Letters,
que trata especificamente da questão tributária. A obra em que
resume este conjunto de proposições apareceu em 1729 (tinha então
62 anos) costuma ser citada como Modest Proposal mas o título
completo, algo extenso, define bem o seu propósito: "Modesta Proposta
a fim de prevenir que os filhos de famílias pobres tornem-se um ônus
para os seus pais ou para o país, com vistas a torná-los úteis
ao público".
A atividade religiosa e o interesse pela política não impediu que
aflorasse sua vocação literária. Como preceptor de uma jovem
dedica-lhe o Journal of Stella (1710-1713), que se considera corresponda
a um painel bastante completo da alta sociedade londrina, da qual se tornara
observador privilegiado pela proximidade que mantinha com os conservadores. Sua
obra literária inclui um poema a que intitulou Verses on the Death
of dr. Swift (1739), onde passa em revista episódios de
sua vida, com grande senso de humor.
Viagens de Gulliver (1726) seria o livro que lhe proporcionou notoriedade
literária. A obra reflete o clima vigente na primeira metade do século
XVIII após a eliminação das causas que deram origem ao longo
período de guerra civil. Não tendo a circunstância contribuído
para a melhoria da moralidade social, tornou-se tema de grande relevância.
A par da discussão teórica, que mobilizou personalidades notáveis,
adquire relevante atualidade a convicção de que o homem seria pecador
de muito difícil recuperação, devendo os moralistas empregar
todos os meios para adverti-lo, recorrendo não apenas ao púlpito
mas igualmente e sobretudo aos recursos literários.
Swift faleceu em sua terra natal (Dublin) aos 78 anos (1745). (Ver também Viagens
de Gulliver; DEFOE, Daniel e BUTLER, Joseph).
(1) Ainda
que a Irlanda haja sido incorporada
desde os primórdios
(século XI) ao processo
de formação
da civilização
que se inicia com as invasões
normandas, sua maioria católica
recusou firmemente a reforma
de Henrique VIII que deu
nascedouro à Igreja
Anglicana. Em 1800 a Irlanda
passou a dispor de autonomia
como integrante do Reino
Unido, o que não fez
cessar o movimento pela independência,
que naquele século
assume feição
republicana. A independência
somente ocorreria em 1921,
com o desmembramento da Irlanda
do Norte, de maioria protestante
e integrada à Inglaterra,
o que iria perpetuar o conflito
religioso.
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