SÓFOCLES
Sófocles nasceu em Colônia
em 495, sendo trinta anos mais
moço que Ésquilo – o
primeiro dos grandes dramaturgos
gregos cuja obra e nomeada sobreviveram
até nós. Em que
pese a diferença de idade,
suas peças chegaram a
ser encenadas com sucesso ao
lado daquelas que o grande mestre
levava à cena ainda em
vida. A par do reconhecimento
como homem do teatro, era uma
personalidade pública
de prestígio. Em decorrência
dessa condição,
foi escolhido estratego ao lado
de Péricles para dirigir
uma expedição militar
contra Samos (ilha grega situada
no mar Egeu, próxima da
Turquia), em 440. Em sua época,
era grande a disputa em Atenas
entre os partidários da
democracia e os que a esta se
opunham. Parece achar-se mais
ligado a estes últimos,
embora se trate de simples inferência.
Teria participado da denominada
revolução oligárquica
de 411. Tinha então 84
anos idade bastante avançada.
Faleceu cinco anos depois, em
406, com 89 anos.
Admite-se que haja escrito mais
de cem peças. Restaram-nos
sete, a saber: Ajax; Os
tracianos; Antígona; Édipo
Rei; Eletra; Filoteto; e Édipo
em Colônia. Admite-se
que não se ateve estritamente à obrigação
das trilogias, conforme a tradição.
Ao mesmo tempo, ainda quando
os temas das peças achavam-se
ligados, elaborou-as em diferentes
períodos. Assim, o tema
de Antígona é posterior à morte
de seu pai, Édipo. Entretanto Antígona teria
sido encenada em 440 e a primeira
das peças dedicadas a Édipo
vinte anos depois.
Ajax é um dos personagens
da Ilíada. Com
a morte de Aquiles, figura central
da obra estabelece-se uma disputa
em torno da herança de
suas armas, já que a guerra
contra Tróia irá prosseguir.
A deusa Athena protege abertamente
Ulisses, por isto vitorioso na
disputa, o que leva Ajax à loucura
e ao suicídio. Os comentaristas
costumam assinalar a circunstância
de que, sendo Sófocles
um homem piedoso, haja proporcionado
da divindade, como escreve Raphael
Dreyfus, organizador da edição
da Pléiade, “uma
imagem mais odiosa que o mais
céptico dos incrédulos”.
A peça não alcançou
sucesso junto ao público,
no Ocidente, a exemplo do que
ocorreria com Édipo
Rei, Elétra e Antígona.
Os tracianos tem por objeto a odisséia de Hércules,
Filho de Zeus, personificação da Força. Segundo a mitologia,
Hércules pertencia à família dos Titans, de onde provém
a humanidade. Para expiar a morte de sua esposa (Megara) e de seus filhos,
deve executar doze trabalhos, cuja dificuldade consagraria a expressão "trabalhos
de Hércules". A peça de Sófocles passa por cima de
parte desses antecedentes e apresenta-o como achando-se casado com Djanira
(irmã de Megara) e para fazê-lo teve que arrancá-la ao
monstruoso Achelos. Hércules mata o centauro Nessos para proteger Djanira.
Antes de morrer, entretanto, aquele dá a Djanira sua túnica (ensangüentada
e enfeitiçada) que ela presenteia a Hércules, levando-o ao sofrimento
e à morte. Em mãos de Sófocles, a história torna-se
amarga e extremamente pessimista. Como a ação se passa em Tracia,
diante do palácio e Sófocles talvez não tenha querido
destacar qualquer das personagens, associou o seu nome à cidade Acha-se
no rol daquelas que, embora demonstrando o gênio de Sófocles e
seu poder de expressão teatral, não atraiu o público,
talvez pela atmosfera excessivamente pesada e soturna.
Filoteto também é parte da tradição homérica.
Trata-se do famoso arqueiro da guerra de Tróia, a quem Hércules
havia legado seu arco e flechas. Ferindo-se de forma supostamente incurável,
vê-se abandonado pelos gregos. Curando-se, ajuda na tomada de Tróia,
cabendo-lhe matar a Páris, o desencadeador da conflagração.
Considera-se que, ao escolher o personagem, Sófocles tivesse presente
a situação de Atenas que, engajada numa guerra, a do Peloponeso,
que se prolongava como a de Tróia e pelo desenvolvimento dos acontecimentos,
a cidade achava-se na dependência de um homem que fora banido, lutando
ao lado do inimigo e, na altura em que a peça era encenada (406) reaproxima-se
dos atenienses: Alcebíades (450/404). Muitos o tinham na conta de que
seria o único general capaz de ganhar a guerra.
Filoteto não se inclui entre as peças de Sófocles
que chegaram até nós e lograram sucesso de público. Esta
circunstância estaria reservada àquelas que focalizam as duas
grandes famílias malditas da mitologia grega, as que compreendem a Édipo
e descendência ou a descendência de Agamenon. (Ver também ÉSQUILO, Édipo
Rei e Antígona; e Eletra).
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