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Dicionário das Obras
Básicas da
Cultura Ocidental
Antonio Paim
Índice: a - b - c - d - e - f - g - h - i - j - k - l - m - n - o - p - q - r - s - t - u - v - x - w - z
Robinson
Crusoé,
de Defoe
O jovem inglês Robinson
Crusoé resolve tornar-se
marinheiro e apesar da oposição
da família e das intempéreis
enfrentadas na primeira viagem,
insiste nesse propósito,
sofre naufrágio, torna-se
escravo, foge, radica-se no Brasil
e consegue ganhar algum dinheiro.
De regresso à pátria,
ao invés de acomodar-se,
como aconselha o bom senso e
a primeira mulher, larga tudo
e volta á vida do mar.
Aqui começa efetivamente
o romance porquanto viria a ser
o único sobrevivente de
um naufrágio, encontrando-se
numa ilha completamente desabitada
que, mais tarde, verificaria
localizar-se no Caribe. Estávamos
em 1659 e Robinson Crusoé tinha
então 27 anos.
Sendo Daniel Defoe um dissenter indomável, é sintomático
que haja colocado o início
da epopéia de seu personagem
na altura em que se dava a restauração
da monarquia (1660) e os puritanos emigram
em massa para as colônias
britânicas na América..
Talvez quisesse com isto expressar
a sua confiança de que
seriam capazes, como se propunham
os adeptos da Reforma, de erigir “uma
obra digna da glória de
Deus”, por mais adversas
que se apresentassem as circunstâncias.Robinson
Crusoé seria uma espécie
de paradigma.
Recolhendo o que sobra do navio
naufragado e que chega à costa,
Robinson Crusoé ira dar
a maior prova de tenacidade,
espírito prático,
confiança na sabedoria
da Providência, tudo isto
para realizar, em miniatura,
uma extraordinária obra
civilizatória. Sua sobrevivência
será assegurada não
pela coleta de alimentos ou a
caça mas pela organização
do plantio e dos criatórios.
Nada se perderá das colheitas
porquanto as formas de armazenamento
seriam minuciosamente projetadas
e construídas. A moradia
e as provisões ficam a
salvo dos animais perigosos.
E assim o nosso herói
permaneceu durante nada menos
que 28 anos.
A única peripécia
ocorrida na ilha seria a presença
periódica de selvagens,
vindos em canoas para celebrar
uma cerimônia macabra:
a antropofagia. As vítimas,
como viria a saber Robinson Crusoé,
são prisioneiros capturados
entre os aborígenes da
região. Numa dessas oportunidades,
consegue salvar um deles e educa-lo.
Passa a chamá-lo de Sexta
Feira por ter sido o dia em que
o recolheu.
No último ano verifica-se
grande movimentação
devido ao fato da tripulação
amotinada de um navio ter decidido
trazer para a ilha, como prisioneiros – com
a intenção de fuzila-los – o
comandante, o imediato e um passageiro.
Robinson Crusoé resolve
liberta-los e consegue recuperar
o navio. Os amotinados mais rebeldes – e
os receosos da punição
que os aguardava em terra – são
deixados na ilha. Robinson Crusoé regressa à Inglaterra.
Era o ano de 1687 e nosso herói
teria 55 anos.
Defoe poderia ter parado por
aqui. Mas resolve fazer com que
Robinson Crusoé retorne à ilha ,
e organize uma comunidade,
inclusive enfrentando pelas armas
os nativos das ilhas vizinhas.
Quando derrotados e feitos prisioneiros,
os indígenas acabam assimilados.
O curioso é que os ingleses
de Defoe casam-se com as mulheres
das comunidades locais, o que
não parece ter ocorrido
de modo habitual.
Há no livro, ainda, uma
série de aventuras transcorridas
no Oriente, inclusive uma acidentada
travessia, por terra, na direção
da Rússia, para dali retornar à Inglaterra.
Defoe era um ativista político
e considera-se que sua obra literária
estaria subordinada a tais objetivos,
como de resto seus jornais e
panfletos. O sucesso alcançado
por Robinson Crusoé na
Inglaterra do século XVIII
confirmaria a validade do propósito
porquanto seria recebido como
exaltação da combatividade
e da tenacidade dos ingleses.Contudo,
a exemplo de Moll Flanders, a
perenidade da obra não
seria devida a tais intenções.
Robinson Crusoé permanecerá como
o protótipo da personalidade
reta, dotada de grande senso
de justiça, sem a ingenuidade
e a candura dos personagens “bons” de
Charles Dickens e, portanto,
capaz de ser aceito como uma
figura de carne e osso. (Ver
também DEFOE,
Daniel, e Moll Flanders).
Os
vários dissidentes,
integrantes das diversas
seitas protestantes, acabaram
por ser agrupados como puritanos devido
ao fato de que os unia o
propósito de construir
uma igreja sem resquícios “papistas”,
de que acusavam a Igreja
Anglicana.
Quando
da decisão de retornar
ao mar, Robinson Crusoé cogitou
de regressar ao Brasil. Mas
afasta essa idéia
argumentando desse modo: “Na
verdade, alimentara algumas
dúvidas sobre a religião
de Roma quando no estrangeiro,
sobretudo durante a minha
vida solitária. Destarte
não poderia (regressar)
a não se que estivesse
resolvido a abraçar
sem reservas, a religião
católica, ou que me
achasse disposto a sacrificar-me
por meus princípios
religiosos, a tornar-me um
mártir e morrer nas
garras da Inquisição.
Resolvi, por isso ... se
possível, vender a
plantação.”
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