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Dicionário das Obras
Básicas da
Cultura Ocidental
Antonio Paim
Índice: a - b - c - d - e - f - g - h - i - j - k - l - m - n - o - p - q - r - s - t - u - v - x - w - z
PTOLOMEU
Cláudio Ptolomeu foi uma
das personalidades mais destacadas
do Museu de Alexandria, criado
por Alexandre, o Grande (336-323
antes de Cristo), macedônico
que conquistou o mundo conhecido
em seu tempo e que teve a Aristóteles
como preceptor. Sabe-se pouco
da vida pessoal de Ptolomeu,
apenas que viveu no século
II da nossa Era.
Acham-se associados ao Museu
de Alexandria os nomes de grandes
homens de ciência, em especial
Euclides e Cláudio Ptolomeu.
Pode-se considerar o Museu de
Alexandria como autêntica
expressão da forma pela
qual a cultura grega foi difundida.
O Museu era um centro científico
subdividido em quatro departamentos
principais: literatura, matemática,
astronomia e medicina, abrangendo
esta a história natural.
Os monarcas que sucederam a Alexandre
não só o sustentavam
como compareciam pessoalmente
a eventos que promovia, com o
fito de prestigiá-lo.
A instituição formou
uma biblioteca imensamente rica
e dispunha de copistas para enriquecê-la
sucessivamente.(1) Considera-se
que os homens mais notáveis
da época tenham sido atraídos
pelo Museu. Graças a isto,
Alexandria rivaliza com Atenas
como centro cultural do mundo
mediterrâneo.
O espírito classificador
e investigador de Aristóteles
se transmitiu ao Museu de Alexandria,
o que se evidencia sobretudo
na astronomia. A atividade dos
astrônomos consistia em
observar cuidadosamente o céu,
registrar ciosamente o movimento
dos astros e tornar essa ciência
uma obra coletiva e de gerações,
destacando-se Ptolomeu, cuja
obra permitiu o conhecimento
de seus feitos científicos.
Ptolomeu exerceu uma influência
fundamental na cultura européia,
achando-se duas de suas obras
básicas no centro do debate
que dá nascedouro à Época
Moderna.
A primeira delas passou à história
com o nome de Almagesto,
corruptela da denominação
que lhe deram os árabes.
Seu título original era Sintaxe
matemática. Contém
a sistematização
das observações
astronômicas dos seus predecessores
no Museu. Como foi preservada
e incorporada ao saber escolástico,
cultuado na Idade Média,
geralmente é denominado
de “sistema ptolomaico”.
Segundo esse sistema, o globo
terrestre acha-se estacionado
no centro do Universo – o
que explica também haja
sido batizado de “geocêntrico” –,
girando em seu derredor o Sol,
a Lua, estrelas e planetas, em órbitas
circulares e movimento uniforme.
A hipótese de que o Sol é que
se encontraria no centro do Universo
apareceu no século XVI,
defendida por Copérnico,
logrando encontrar muitos seguidores,
o mais notável dos quais
seria Galileu, sendo denominada
de “sistema heliocêntrico”.
Por entender que a nova hipótese
contrariava os ensinamentos do
cristianismo, a Igreja a ela
se opôs violentamente,
condenando seus defensores. De
todos os modos, encontra-se na
base do novo método, experimental,
de estudar a natureza, que deu
origem à física
moderna, em decorrência
do que a física aristotélica
viria a ser abandonada.
O outro livro que suscitaria
igualmente grandes polêmicas
seria a Geografia. Desde
o momento em que se tornou acessível,
no século XV, até os
descobrimentos preservou grande
influência. Continha, com
a localização em
latitude e longitude, inúmeros
lugares desconhecidos, mas também
alguns que apareceram em relatos
de viajantes que haviam chegado
ao Extremo Oriente, a exemplo
de Marco Polo. Como nutria uma
visão mediterrânea
do mundo – segundo a qual
os limites acessíveis
da Terra encontrar-se-iam na
altura do cabo Bojador, a noroeste
do deserto do Saara, supondo
ainda que a zona equatorial seria
inabitável, do mesmo modo
que as zonas setentrionais próximas
do pólo –, a Geografia teve
suas edições suspensas
por volta da última década
do século e primeira do
seguinte. A partir de 1507, volta
a ser impressa, agora acrescida
de “tábuas novas”,
com os registros das descobertas
recentes.
Os navegadores portugueses promoveram
a completa superação
daquela perspectiva mediterrânea
do mundo. Mas ainda assim, para
apresentá-la, no relato
que faz dos descobrimentos da
Guiné e das ilhas dos
Açores, Madeira e Cabo
Verde, em 1480, Diogo Gomes desculpa-se
desta forma: “E estas
coisas que aqui escrevemos, se
afirmam salvando o que disse
o ilustríssimo Ptolomeu,
que muito boas coisas escreveu
sobre a divisão do mundo,
que porém falhou nesta
parte. ... E eu digo com verdade
que vi grande parte do mundo”.
Estávamos então
nos primórdios da valorização
da experiência, a partir
de que seria refeita toda a ciência
grega. Mas isto de certa forma
significava a retomada do espírito
que presidiu à formação
do Museu de Alexandria, abandonado
na medida em que todo o saber
foi sendo subordinado às
verdades teológicas da
Igreja Romana.
(1) A
biblioteca do Museu de Alexandria
foi vítima de um incêndio
nos meados do I século a.C.,
em conseqüência
do recurso ao fogo para destruir
a frota egípcia, a
que recorreram os romanos.
Mas foi posteriormente reconstituída,
voltando ao antigo esplendor.
Não resistiu porém à intolerância
religiosa que acompanhou
a ascensão do cristianismo.
A preservação
de sua memória deve-se
aos árabes que ocuparam
a região a partir
do século VII.
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