(O)
Príncipe,
de Maquiavel
O Príncipe é um
livro de pequenas dimensões,
dividido em 26 capítulos.
Seu autor estuda os meios pelos
quais se constituem, se conservam
e se estendem os Estados e
termina exortando à sua
aplicação e à criação
de um potente exército
nacional para libertar a Itália
da dominação
estrangeira.
O livro poderia ser dividido
em duas partes. Na primeira,
apresenta exemplos de homens
que, em diversas circunstâncias,
conseguiram chegar ao poder e
preservá-lo. Na segunda,
tomando por base a natureza humana,
anuncia regras e conselhos sobre
a arte de governar, ilustrando-a
com exemplos.
Maquiavel parte de uma nova classificação:
repúblicas e principados.
Os capítulos que contêm
o essencial do chamado maquiavelismo
são os XV, XVI, XVII e
XVIII. Nestes estabelece as virtudes
e os vícios de que a natureza
humana é capaz para se
perguntar quais as categorias
que convêm ao Príncipe.
Conclui que deve agir sem referência
aos preceitos morais sempre procurando
demonstrar que sua conduta é virtuosa.
Se não agir deste modo
não poderá lutar
contra os que agirão
contra ele sem quaisquer reservas.
O Príncipe deve não
apenas ser amado mas igualmente
temido. Se tiver que escolher, é preferível
que seja temido.
Seguem-se conselhos relativos à formação
do governo. O sucesso do Príncipe
depende sobretudo da própria
conduta e de suas qualidades
pessoais.
No capítulo final, Maquiavel
exorta o Príncipe à libertação
da Itália.
O Príncipe suscitou enorme diversidade de interpretações,
inclusive a que aventa a hipótese de que tratar-se-ia de uma sátira.
A origem de tais controvérsias parece residir no fato de que Maquiavel
marca o início da consideração da política de modo
autônomo da moral. A questão achava-se naturalmente em seus primórdios
e o seu tratado parece haver chocado a muita gente. Contudo, o Florentino não
deve ser tomado à conta de padrão da falta de escrúpulos,
mesmo porque, na vida pessoal teve uma conduta exemplar, além de que
era movido pela intenção de promover a libertação
de seu país.
No ensaio intitulado “O
problema de Maquiavel”,
Isaiah Berlin reuniu a enorme
diversidade de interpretações
suscitadas por O Príncipe,
em que pese a circunstância
de tratar-se de um livro pequeno,
estilo direto e nada obscuro.
Apreciando-as, Berlin refuta
desde logo a hipótese
de que Maquiavel rejeitava toda
espécie de moralidade.
A seu ver, sua incompatibilidade
era com a ética cristã que
negava para pôr em seu
lugar os valores da antigüidade
clássica. Escreve: “Os
valores de Maquiavel podem ser
errados, perigosos, odiosos,
mas ele não está brincando.
Não é cínico. É sempre
o mesmo fim: um Estado concebido
numa analogia com a Atenas de
Péricles ou Esparta, mas
acima de tudo, a República
Romana. Uma finalidade como esta,
pela qual os homens anseiam,
naturalmente (pelo menos Maquiavel
pensa que a história e
a observação oferecem
evidência concludentes
para isto) “desculpa” quaisquer
meios, olhe sempre para os fins:
se o Estado sucumbir tudo estará perdido.
Daí o famoso parágrafo
quarenta e um do terceiro livro
dos Comentários,
onde diz: “Quando a própria
segurança do país
depende de uma decisão
a tomar, não se deve permitir
o predomínio de nenhuma
consideração de
justiça ou injustiça,
humanidade ou crueldade, glória
ou infâmia. Deixando de
lado qualquer outra consideração,
só temos de perguntar
qual o rumo que salvará a
vida e a liberdade do país.”
Conclui Berlin: “Vê-se
pois que a importância
de Maquiavel reside no fato de
que se coloca a serviço
de uma instituição
social nova e que estava destinada
a realizar uma grande trajetória:
o Estado Moderno, em sua feição
absolutista inicial. E, ao mesmo
tempo, o mérito de vislumbrar
uma investigação
autônoma da política,
sem ir buscar os princípios
na ética ou qualquer esfera”.
(Ver também MAQUIAVEL).
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