NISBET, Robert
Nascido em 1913, é Professor
Emérito da Universidade
de Columbia, nos Estados Unidos,
tendo concluído o doutorado
na Universidade da Califórnia
em 1939. Durante a longa e fecunda
carreira docente posterior, atuou
sobretudo nos estados da Califórnia
e do Arizona. Presentemente integra
o staff acadêmico
do American Enterprise Institute,
com sede em Washington, que abriga
na área da ciência
política nomes como Michael
Novak e Irving Kristol. Autor
de diversos livros, entre estes A
tradição sociológica (1966); Mudança
social e história (1969); O
declínio da autoridade (1975); História
da Idéia de Progresso (1980),
além de Os filósofos
sociais (1973), que se considera
como uma das obras mais representativas
da fecundidade da fase contemporânea
da sociologia americana. De toda
a sua extensa obra, somente teve
traduzidos ao português
os dois últimos livros
(Editora da Universidade de Brasília,
1982).
A mudança social é o
tema por excelência da
obra de Nisbet. Em relação
ao chamado “milagre grego” sustenta
hipótese mais fecunda
que as duas outras mais importantes
(A cidade antiga e A
cidade grega). Parece-lhe
que as reformas de Clístenes
(Segunda metade do século
VI antes de Cristo) quebraram
a imobilidade daquela sociedade,
não apenas as de índole
democrática no tocante às
instituições de
governo, para as quais tem sido
chamada a atenção,
mas especificamente a reforma
militar.
Na opinião de Nisbet,
em decorrência dessa última
reforma, a sociedade patriarcal
foi corroída pelos valores
provenientes das ações
militares exigidas pela guerra. “Foi
a guerra, acima de tudo o mais – escreve – que
ditou as reformas revolucionárias
de Clístenes, em Atenas,
em 509 antes de Cristo, as quais
geraram as polis e também,
pela primeira vez, um exército
e uma marinha capazes de vencer
até mesmo a grande e
poderosa Pérsia” (The
Social Philosophers, 1973,
tradução brasileira,
1982).
A Grécia era sobretudo
uma sociedade patriarcal. A família
patriarcal adquirira no tempo
de Clístenes uma dimensão
gigantesca, desde que reunia,
além de todos os descendentes,
agregados e escravos. Essas famílias
reuniam-se espacialmente em aglomerados
maiores, denominados “gentes” e “fratias”,
agregação que culminava
com a tribo. Em toda Atenas havia
apenas quatro tribos.
A família patriarcal revelou-se,
na história da humanidade,
uma estrutura fundamental. Graças
a ela é que os homens
primitivos não apenas
sobreviveram às intempéries
como conseguiram estruturar determinado
nível de organização
social. Seria mérito de
Nisbet chamar a atenção
para a circunstância de
que a sociedade patriarcal termina
por operar uma espécie
de congelamento do progresso
social. Teria sido a quebra dessa
estrutura que permitiu à Grécia – e
depois ao mundo romano – mover-se
do lugar e introduzir uma nova
dinâmica. Com efeito, as
sociedades que, nas proximidades
da Grécia, mantiveram
aquela condição
patriarcal parecem paradas no
tempo, como tem mostrado a televisão
em certas áreas da antiga
Iugoslávia, mesmo na Europa,
ou em países daquela região
como o Afeganistão.
Clístenes eliminou as
quatro tribos, colocando em seu
lugar dez outras organizações
que, embora preservando a mesma
denominação nada
tinham a ver com o passado porquanto
não estavam estruturadas
na base da continuidade espacial
nem na consangüinidade.
A nova unidade básica
da cidade, denominadas “demes” tornou-se
a fonte dos direitos dos cidadãos
(principalmente participar da
vida política), mas também
a base do recrutamento militar.
As novas tribos foram, cada uma
delas, identificadas com um antigo
herói guerreiro, tendo à frente
pessoas que se revelaram capazes
no exercício da arte militar.
Nisbet destaca que a eficácia
do novo sistema comprovou-se “na
completa e notável vitória
obtida pelos atenienses sobre
os temidos e agressivos persas,
no início do século
V antes de Cristo. Esta vitória,
uma das mais famosas do mundo
antigo, representa o verdadeiro
ponto de partida da nova cidade-Estado,
a polis”. Tais
resultados decorreram, a seu
ver, da emergência de novos
valores, relacionados à guerra.
Na família patriarcal,
provindo a sabedoria da experimentação,
quanto mais velho mais sábio
o patriarca. A guerra, em contrapartida,
exaltou a juventude, a audácia,
a capacidade de correr riscos.
Fez emergir também a idéia
de comunidade. Adiante: “Com
muita freqüência,
na verdade, grandes generais
e grandes artistas eram uma única
pessoa, como no caso de Sófocles.
E, com muita freqüência
também as motivações
da arte, do ritual, do drama
e mesmo da filosofia e da história
eram motivações
militares”.
O exemplo serve para aproximar
Nisbet de Max Weber, na medida
em que ambos estão atentos à mudança
na valoração como
ponto de partida da mudança
social. Justamente um outro discípulo
de seu mestre – F. J. Teggart
(1870-1946) – Reinhard
Bendix, é autor da melhor
sucedida biografia intelectual
de Weber.
Nisbet é ainda autor de
crítica demolidora às
denominadas teorias do desenvolvimento
endógeno, segundo as quais
o processo sob exame contém
em germe a determinante de sua
mudança. Nisbet arrola
nessa categoria modelos do tipo
comteano ou hegeliano mas o mais
expressivo seria o marxista,
com a hipótese determinística
de que o regime burguês
produz o seu próprio coveiro,
o proletariado, hipótese
que, tendo assumido conotação
religiosa, associada à tradição
milenarista aparecida no seio
do catolicismo, causou tantos
estragos à nossa civilização
como o renascimento da Inquisição
nos séculos XVI e XVII
e parte dos XV e XVIII, de que
mais parece herdeiro.
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