Dicionário das Obras Básicas da
Cultura Ocidental

Antonio Paim

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Monarquia, de Dante Aleghieri

O grande poeta da Idade Média, Dante Aleghieri (1265-1321), participou do debate político de seu tempo. Naquele período histórico, ameaçada em sua sobrevivência pelo predomínio na Europa de invasores pagãos - e no empenho de convertê-los ao cristianismo, a Igreja Católica acabou fazendo com que aquele ciclo civilizatório desse à cultura feição predominantemente religiosa. A salvação da alma tornou-se o centro da vida e o próprio poeta colocou-se ao serviço daquela missão. De todos os modos, contudo, a discussão política acabou por emergir, sobretudo na medida em que se criam centros universitários onde começa a penetrar o direito romano. o estudiosos dessa disciplina tendiam a sustentar a autoridade dos monarcas em matéria temporal, vale dizer, inclinam-se pela doutrina da separação entre os dois poderes. Enquanto os estudiosos e codificadores do Direito Canônico afirmam a supremacia do Papado, cabendo-lhe consagrar a investidura do Monarca.

Intervindo naquela discussão, Dante publica um texto intitulado Monarquia no qual avança argumentos considerados de grande consistência em favor da separação dos dois poderes.

Afirma que para a humanidade poder desenvolver suas possibilidades intelectuais, isto é, seu potencial de progresso, é necessário que a paz reine em toda a parte. Admite-se que haja concluído aquela obra no ano de 1308, quando se dá a invasão da Itália por Henrique VII de Luxemburgo. A manutenção da paz entre os estados, prossegue, somente será alcançada quando o mundo venha a ser governado por um só homem, devendo este soberano ser o imperador romano, ao qual todos deverão obedecer. Diz textualmente que o império universal corresponde à vontade de Deus. Justamente para torná-lo realidade, Deus fez com que os romanos conquistassem o mundo. Como prova da vontade divina apresenta a circunstância de que Jesus Cristo haja nascido no alvorecer do Império. Os milagres que os romanos atribuíam aos deuses do paganismo, na verdade, provinham do Deus dos cristãos que, ajudava aos romanos, desde que lhes havia dado a missão de unificar o mundo.

Tenha-se presente que existia o Sacro Império Romano Germânico. Entretanto, somente a partir de Frederico III da Áustria (reinou de 1440 a 1439), a instituição se consolida e passa a ter uma estrutura mais ou menos estável. O fato de que tal haja ocorrido muito depois da morte de Dante não impede de reconhecer que a aspiração por ele apresentada deveria corresponder a esperança generalizada no seio da elite, notadamente em face da crise que vinha de se abater sobre a Igreja com a mudança forçada do Papa para a Avinhão, em 1309, de que resultaria o grave cisma com a existência de duplicidade no Papado entre 1378 e 1417.

Outro argumento que serviu para popularizar a obra de Dante, consiste no seguinte: aos que justificam a subordinação do poder temporal à Igreja, invocando as teorias astronômicas e comparando o Papa ao Sol e o Imperador à Lua, lembra que, se a Lua é iluminada pelo Sol, não deve a este o movimento. (Ver também DANTE ALIGHIERI).

 

 

 

 

 

 

 

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