(A)
Metafísica de
Aristóteles
A Metafísica de Aristóteles inclui-se entre os livros
que exerceram maior influência na formação da cultura ocidental.
Trata-se de um esforço sistemático de impulsionar o exame
das questões tendo por escopo alcançar o máximo de generalidade.
Tratando das causas dos eventos, está interessado em saber o que se pode
dizer das causas em geral. Achando-se o mundo povoado de seres, não se
detém nesta constatação. Quer saber o que se poderia dizer
do ser em geral.
A Metafísica foi organizada pelos discípulos de Aristóteles,
não se incluindo entre as obras que editou diretamente. Tomando por base,
provavelmente, aulas expositivas há no livro muita repetição
e também temas que deram origem a controvérsias. Subdivide-se em
14 livros de tamanho desigual e contendo, como se mencionou, algumas repetições.
O Livro I trata das causas. Deve-se ter presente que Aristóteles define
a filosofia como a ciência teórica dos primeiros princípios
e das primeiras causas, entendendo que há quatro causas: material, formal,
eficiente e final. A ciência moderna ocupa-se do que Aristóteles
chamou de causa eficiente, isto é, o antecedente temporal do fenômeno
estudado. A causa material diz respeito ao que contemporaneamente denominaríamos
de estrutura física ou química dos corpos. Na Grécia, a
investigação desse aspecto era de natureza filosófica. Os
seres teriam componentes materiais e uma essência unificadora. Essa essência
unificadora também pode ser chamada de substância e era sempre de
natureza qualitativa. Assim, não se enveredou pelo caminho da medida,
a exemplo do que ocorreria na Época Moderna. A idéia de causa final
seria retomada contemporaneamente para distinguir a ação humana
dos processos físicos.
O Livro II consiste num texto relativamente reduzido onde Aristóteles
busca precisar o conceito de filosofia, distinguindo-a de outras formas de conhecimento
existentes em seu tempo. O Livro III, um pouco mais extenso, corresponde à continuação
da mesma temática. Aqui aparecem alguns conceitos que são melhor
estudados na Lógica, a exemplo da classificação dos seres
em espécies – diríamos, contemporaneamente, identificar conjuntos
de indivíduos muito semelhantes entre si e aos ancestrais – para,
em seguida, agrupá-los em gêneros (diz-se que a espécie é a
unidade biológica fundamental, que não se pode misturar por cruzamento,
de forma durável, com outras espécies). Contudo, o propósito
consiste ainda em precisar o conceito de filosofia como ciência das primeiras
causas e dos primeiros princípios.
No Livro IV, Aristóteles avança um outro entendimento da metafísica
ao defini-la como a ciência do ser enquanto tal. Presumivelmente quer distingui-la
da física que é definida como a ciência do ser enquanto móvel.
Tenha-se presente que, nos cursos de Aristóteles, a temática considerada
na Metafísica (literalmente depois da Física) devia seguir-se à considerada
nesta última disciplina. No Livro V define os diversos temas que vem
empregando (causa, elemento, natureza, necessário, unidade, ser, substância,
etc.).
O Livro VI aponta quais são as ciências teóricas: a física,
a matemática e a teologia. Cumpre ter presente que a sua noção
de teologia não tem muito a ver com o que por isto entendemos na tradição
judaica-cristã (um único Deus, correspondendo basicamente a um
ser espiritual etc.). Aristóteles esbarra com o problema ao tratar do
movimento, já que, para harmonia lógica de sua teoria, precisa
daquilo que chamará de Primeiro Motor, que define como sendo um
ser imóvel que move sem ser movido. O tema do Primeiro motor é objeto
do Livro Sétimo, onde procura também precisar a noção
de substância e das relações entre as partes e o todo. De
um modo geral, os últimos aspectos estão relacionados com o assunto
que versou em suas obras lógicas, conforme menciona expressamente. O Livro
Oitavo contém uma recapitulação das observações
relativas à substância.
No Livro IX, Aristóteles aborda uma questão importante no seu sistema,
a saber: as idéias de ato e potência. Esta doutrina de certa forma
está relacionada a uma dificuldade proveniente da idéia de primeiro
motor, de onde decorre a noção de “potência motriz”,
isto é, capacidade de mover. Tratando-se de uma teoria geral relativa
ao ser, este terá que dispor de virtualidades que podem atualizar-se ou
não, isto é, a potência de vir a tornar-se ato.
Finalmente, nos Livros X, XII, XIII e, no último, XIV, Aristóteles
volta à maioria dos conceitos que abordou especificamente no Livro V,
sempre com a sua interface com os temas lógicos. Distingue-se dessa parte
final o Livro IX onde procura apontar e esclarecer as dificuldades da filosofia,
se bem que em seus últimos capítulos insista no tema das ciências
teóricas e nas noções de acidente e movimento. Mais uma
vez, o propósito de Aristóteles ao voltar à noção
de filosofia consiste em enfatizar a sua generalidade, frontalmente oposta aos
pontos de vista particulares. (Ver também ARISTÓTELES).
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