LEIBNIZ
Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716)
nasceu em Leipzig, Alemanha,
tendo estudado filosofia e
matemática em universidades
alemãs. Adquiriu grande
nomeada por várias circunstâncias.
A primeira delas pelo fato
de que se tornou um diplomata
de enorme influência
nas principais cortes européias.
Seu empenho consistia sobretudo
em lograr a unificação
das nações cristãs
para expulsar os turcos da
Europa, sabendo-se que chegaram às
portas de Viena e ocuparam
desde a Romênia ao conjunto
de territórios reunidos
sob a denominação
genérica de Balcans.
Segue-se o desenvolvimento
que proporcionou à matemática,
considerando-se que sua doutrina
física chegou a ser
uma alternativa à física
aristotélica. Graças
a isto foi escolhido para presidir
a Sociedade de Ciências
de Berlim. Nesse particular,
disputou abertamente a primazia
com partidários da física
newtoniana. Finalmente, formulou
os princípios de um
novo sistema filosófico
que imaginava destinado a alcançar
a grandiosidade da Escolástica.
Devido ao fato de que tais
princípios achavam-se
dispersos em diversos textos,
Christian Wolff (1679-1754) – professor
de filosofia em Halle desde
os começos do século,
prestigiado na Corte prussiana – assumiu
a responsabilidade de dar-lhes
feição sistemática.
E assim a nova proposta filosófica
veio a ser conhecida como sistema
Wolff-Leibniz, conquistando
a adesão das principais
universidades alemãs. É esse
sistema que Kant tem em vista
na sua obra crítica.
Para Wolff, a filosofia é um
saber escolástico, termo
que emprega para indicar que
deveria ser rigorosamente organizado
e deduzido de número limitado
de princípios. Basicamente
consistem estes nos princípios
de contradição e razão
suficiente.
O princípio da contradição
foi formulado na lógica
de Aristóteles e consiste
em afirmar que os conceitos devem
ser aplicados num único
sentido, no raciocínio
dado. Se se relaciona ao real,
diz “ser impossível
que uma coisa seja e não
seja ao mesmo tempo e em relação
ao mesmo aspecto”.
O princípio de razão
suficiente é atribuído
geralmente a Leibniz, pois foi
quem o formulou de modo acabado,
embora tivesse presente em outros
autores. Segundo este, nada acontece
sem que haja uma razão
explicativa.
Em Wolff, tais princípios
não se referem apenas
ao pensamento mas à própria
realidade. Assim, são
idênticos os princípios
que regem o real e a matemática.
As leis formuladas com base na
experiência fornecem conhecimentos
prováveis.
A filosofia trata de todas as
coisas possíveis, subdividindo-se
em teórica e prática.
A filosofia teórica compreende
a ontologia (ciência do
ser enquanto que é); cosmologia
(estudo do mundo enquanto formado
por entidades compostas); psicologia
(estudo das entidades simples,
cuja forma representativa se
manifesta nos atos de conhecer
e apetecer) e teologia (tendo
por objeto a essência de
Deus). A exemplo da Escolástica,
Leibniz e Wolff acreditam encontrar
a essência de todos os
entes – existentes e possíveis – por
uma simples análise conceitual.
De posse desse fio condutor,
o saber é rigorosamente
ordenado e sistematizado. As
coisas se passam como se a nova
ciência da natureza, ao
invés de constituir-se
em problema para a filosofia,
fornece-lhe um modelo (matemático)
para a reconstrução
do sistema. Leibniz encontra-se
entre os grandes matemáticos
de todos os tempos.
A filosofia prática se
subdivide em economia e política.
Deste modo, com base nas doutrinas
de Leibniz, Wolff reconstitui
o sistema, com toda a grandiosidade
da Escolástica. O protestantismo
tinha, afinal, uma filosofia,
elaborada em consonância
com os tempos modernos.
Acontece que, na mesma época
em que o sistema de Wolff se
formula e vê-se consagrado,
David Hume, na Inglaterra, estabelece
uma diferenciação
radical entre as ciências
cujos princípios podem
ser deduzidos de suas próprias
regras, como a matemática,
e as que se referem às
relações entre
fatos. A isto precisamente é que
Kant atribui o ter sido despertado
do sono dogmático, isto é,
da crença nos postulados
de Wolff.
Além da distinção
fundamental fixada por Hume,
na primeira metade do século
XVIII a física de Newton
ganha aceitação
universal. Quando Wolff estava
ocupado em conceber o novo sistema,
a física leibniziana ainda
era considerada como uma das
alternativas para substituir
a aristotélica. Na verdade,
não fora ainda fixada
a distinção radical
de que a nova física se
revestia em relação à filosofia.
Supunha-se que era um saber de índole
filosófica e lidava com
realidades absolutas e transcendentes.
Entretanto, a partir de Newton
a física se desinteressa
das questões tradicionais
acerca da causa do movimento.
Trata-se agora de observar e
medir a causa da mudança
de movimento. O procedimento
de estabelecer relações
mensuráveis, passíveis
de serem criticadas e refeitas,
vai aos poucos ganhando os círculos
europeus. Estão consolidadas
as academias de ciências,
criadas na Inglaterra e na França
no século anterior.
Impunha-se rever o sistema
Wolff-Leibniz e esta seria
a primeira tarefa que Kant se
propôs com a Crítica
da Razão Pura (1781).
(Ver também KANT).
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