Ilíada, de Homero
São atribuídos
a Homero dois extensos poemas
denominados de Ilíada e Odisséia.
O primeiro contém a caracterização
dos traços fundamentais
da religião cultuada na época
e o relato da guerra de Tróia.
O segundo descreve os percalços
do regresso à terra natal
de um dos principais heróis
daquela guerra, Ulisses.
A Grécia era então
habitada pelos aqueus (que teriam
chegado à região,
provenientes da Europa Central,
no século XV antes de
Cristo). A guerra de Tróia
teria ocorrido por volta do século
XIII. A civilização
dos aqueus foi denominada de
micênica, pelo fato de
que se denominava Micenas a capital
daquele lendário período.
Decorrido pelo menos um século,
provavelmente no século
XII, começam as invasões
dóricas, que dão
início à civilização
onde surgiu a Grécia Clássica,
na altura do século V.
Seria no curso da fixação
dos dóricos que se efetivaria
a transcrição dos
poemas homéricos até então
preservados como tradição
oral. A data provável
em que teria havido essa transcrição
também é objeto
de controvérsia. Alguns
estudiosos a situam nos séculos
IX ou VIII. Outros entendem que
o mais provável é que
haja ocorrido na fase que precedeu
imediatamente o período
clássico, entre 550 e
500.
Sobre a personalidade do autor
sabe-se muito pouco. A tradição
consiste em supor que Homero
seria o responsável pela
versão das histórias
que o Ocidente chamou de “mitologia
grega”. Teria vivido no
século VIII ou no século
VI, segundo seja a data aceita
como sendo a da transcrição.
Faz parte da lenda a hipótese
de que, ainda velho, erraria
de cidade em cidade declamando
seus versos. O certo é que
se incorporaram à cultura
grega, sendo recitados em ocasiões
solenes e ensinados às
crianças. As figuras marcantes
da obra incendiaram a imaginação
dos grandes dramaturgos clássicos,
situados no século V (Ésquilo,
Sófocles e Eurípedes),
o que lhes asseguraria lugar
de honra na cultura clássica
européia.
A Ilíada compõe-se
de 24 extensos poemas, denominados
de cantos. Talvez em
decorrência dos prazos
dilatados transcorridos entre
os acontecimentos e sua transcrição,
as diversas gerações
que preservaram oralmente a sua
memória teriam introduzido
digressões que tangenciam
o objeto do relato. Acresce a
circunstância de que os
deuses da religião da época
são apresentados como
participantes ativos dos acontecimentos
históricos, tomando partido
em favor de uma ou outra das
facções ou personalidades,
influindo no desfecho das ações.
Um dos principais estudiosos
da cultura grega, Carlos Alberto
Nunes, que não só traduziu
os poemas homéricos como
os diálogos de Platão,
deu vários exemplos dessa
descontinuidade do relato. A
consolidação, como
diz, baseou-se, “em copioso
material preexistente”,
que entende como sendo constituído
de “poemas de menores proporções,
sagas, mitos de origem variada,
que iam sendo incorporados a
conjuntos cada vez mais amplos” (“A
questão homérica”,
introdução à tradução
de Ilíada, Rio
de Janeiro, Ediouro, 6ª edição,
1996, p. 10). Assim, há edições
que, sem violar o espírito
da obra, expurgam as digressões
para obter um texto contínuo.
Segundo o relato, a guerra de
Tróia foi provocada pelo
fato de que Páris, filho
de Priamo, rei de Tróia,
seduziu a Helena, mulher de Menelau,
rei de Argos, e a levou para
Tróia. Argos situa-se
no Peloponeso e supõe-se
que ocupava uma posição
de grande relevância na
civilização da época.
No poema, Tróia é destruída.
Não se sabendo se por
isto ou em decorrência
apenas de catástrofes
naturais, o certo é que
o local em que estaria situada
somente veio a ser fixado no
século XIX. Ficaria onde
se encontra a cidade turca de
Hasarlik, no estreito de Dardanelos.
Para reparar a ofensa, os aqueus
organizam uma poderosa expedição
de que participam todas as cidades
e centros em que se subdividia
a região. O comandante
da expedição é Agamenon,
irmão de Menelau. Do lado
aqueano, além dos mencionados,
os grandes heróis são
Aquiles, filho de uma deusa (Tétis,
deusa do mar) e Ulisses (Odisseu,
em grego), filho de Laertes,
rei da Ítaca, marido de
Penélope. Do lado troiano,
Heitor, filho de Priamo. Todos
tornaram-se personagens familiares à cultura
ocidental.
A guerra dura vários anos,
sobretudo porque, quando se aproxima
do desfecho dos combates, uma
das divindades interfere em favor
do lado de sua preferência,
na eventualidade de que esteja
em vias de ser derrotado. Por
essa razão também
fracassam as tentativas de resolver
o conflito com uma disputa entre
Menelau, o ofendido, e Páris,
o ofensor, do mesmo modo que
o enfrentamento subseqüente
entre Heitor e um dos guerreiros
aqueus. A proposta de que Páris
devolva Helena é recusada.
Finalmente, graças ao
engenho de Ulisses, guerreiros
aqueus são introduzidos
na cidade, escondidos num cavalo
de madeira.
Formalmente, a Ilíada pretende
relatar a disputa entre Agamenon
e Aquiles, bem como a sua reconciliação,
permitindo que o último
retorne ao combate, quando mata
Heitor. Os últimos cantos
(XXII a XXIV) estão dedicados
ao embate entre os dois heróis
e à negociação,
com Priamo, a que os deuses obrigam
Aquiles, em prol da devolução
aos troianos do cadáver
de Heitor. Segundo a mitologia,
a religião da época
afirmava que o morto, ao qual
não se prestasse as devidas
homenagens fúnebres, ficava
vagando sem conseguir penetrar
no mundo dos mortos (Hades).
A ira de Aquiles decorre do fato
de que Heitor matara, em combate,
ao seu meio irmão Pátrocolo.
No canto XXII, a alma deste revela
a Aquiles que encontrará a
morte antes do fim da guerra.
Muitas das lacunas deixadas pela Ilíada,
quanto ao encadeamento da guerra
e seu término, acabaram
sendo preenchidas pela Odisséia.
(Ver também Odisséia,
de HOMERO, ÉSQUILO,
SÓFOCLES e EURÍPEDES).
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