Hipólito e Medéia,
de Eurípedes
Hipólito é a
tragédia de Fedra, que
se apaixona pelo filho do seu
marido e é por este
recusada. Despeitada e ofendida,
mata-se e faz com que o marido
creia que o filho é que
teria tentado desonrá-la.
Encolerizado, Teseu, marido
de Fedra e pai de Hipólito,
provoca a morte deste último.
Hipólito seria o que no
Ocidente cristão se considerou
como “símbolo da
castidade”, atributo ao
qual não se dava maior
valor na Grécia Antiga,
embora, segundo a mitologia,
havia jovens que cultuavam a
sua memória. Com idêntico
sentido, moças às
vésperas do casamento
podiam cortar a mecha de seus
cabelos como forma de prestar
tributo ao fim da castidade.
Eurípedes coloca na boca
de Hipólito sentenças
do tipo adiante. Dirigindo-se
a Zeus, exclama: “se querias
perpetuar a raça humana
não valia fazê-lo
através das mulheres.
Teríamos apenas que, nos
templos depositar ouro, dinheiro
ou bronze em pagamento de semente
de crianças”. Entende
que os pais que tivessem o infortúnio
de gerá-las deviam poder,
mediante um dote, delas desembaraçar-se.
Quem toma a uma delas como esposa
recebe uma parasita que destruirá o
patrimônio da família.
E assim por diante.
Na peça de Eurípedes,
Fedra torna-o sabedor de sua
paixão através
da ama de leite. Contudo, haveria
uma outra versão onde
se declara abertamente, que teria
sido abandonada pelo escândalo
que havia provocado. Também
o ato pérfido de denunciá-lo
ao pai, na peça que se
preservou de Eurípedes, é obra
de uma deusa.
Como na Grécia Antiga
não era comum a opção
pela castidade, o comportamento
de Hipólito seria uma
forma de ofender ao pai, que
comete desatinos sexuais. Tal
ressentimento provinha do fato
de que, além de bastardo,
foi criado pelo bisavô materno.
Teseu nunca se interessou por
esse filho.
Quando Teseu acusa-o de haver
cometido o ato vil de violar
o leito de sua mulher, Hipólito
exclama: “sua virtude ficou
intacta, apesar dela mesma; a
minha era sincera ainda que isto
não haja ocorrido em benefício
de minha felicidade”.
Jean Racine (1630/1699), famoso
poeta trágico francês,
dedicou a Fedra uma de suas peças.
O tema da paixão da madrasta
pelo enteado, que no Ocidente
reveste-se de certo sentido incestuoso,
continuou sendo explorado tanto
no teatro como no cinema.
Medéia é outra das tragédias de Eurípedes
que continua merecendo ampla preferência do público ocidental.
A personagem vive uma grande
paixão por Jason e, para
servir a esse amor, torna-se
uma criminosa e assassina ao
próprio irmão,
vendo-se obrigada a abandonar
a sua pátria de origem
para segui-lo na mudança
para a cidade grega de Corinto.
Nesta, Jason abandona-a para
casar com a filha do rei. Ensandecida,
Medéia provoca a morte
de sua rival, mata os filhos
e foge para Atenas.
Na peça, que se passa
em Corinto, é a ama de
leite que conta a devoção
de Medéia a Jason e a
forma como a abandona. Quando
aparece na cena, Medéia
expressa o seu furor.. Exclama: “Infeliz,
recebi o golpe e tenho que gemer.
Filhos malditos de mãe
que é somente ódio,
possam vocês perecer junto
com seu pai e que toda a casa
seja destruída”.
Para agravar a sua situação,
Creon, rei de Corinto e sogro
de Jason, a expulsa da cidade.
Jason aparece para justificar
a decisão do rei e atribuí-la
ao seu furor, às ameaças
que proferiu publicamente e ao
reconhecimento de que é uma
mulher perigosa. Aparece o rei
de Atenas e, diante de seus lamentos,
assume o compromisso de aceitá-la
como exilada. Daí em diante,
Medéia trata de dissimular
os seus planos. Desculpa-se com
Jason. Prepara adornos magníficos
e manda as crianças levá-los à esposa
de Jason. É uma empregada
quem relata o que ocorreu. A
esposa de Jason reage mal à presença
das crianças. Mas ao ver
a beleza dos adornos, atira-se
a eles e passa a usá-los.
Estando enfeitiçados,
morre envenenada. Após
o relato Medéia ordena
que as crianças sejam
preparadas como se fossem à escola
e as mata. Em seguida, foge para
Atenas.
A brutalidade dessa tragédia
revelou-se extremamente mobilizadora,
tanto dos atores que devem levá-la à cena
como do público, assegurando-lhe
longo e permanente sucesso tanto
na Europa como em outros continentes
do Ocidente. (Ver também EURÍPEDES).
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