EURÍPEDES
                                                
                                                Eurípedes nasceu em 480,
                                                em Salamina, e morreu em 406,
                                                na Macedônia, onde se achava
                                                a convite do rei (Arquelau),
                                                no mesmo ano em que faleceu Sófocles.
                                                Enquanto este completara 89 anos,
                                                sendo bem mais moço, Eurípedes
                                                morreu aos 74 anos. Sua primeira
                                                peça teria sido encenada
                                                em 438, aos 42 anos. Sua atividade
                                                teatral desenvolveu-se portanto
                                                ao longo das três décadas
                                                subseqüentes, quando o acontecimento
                                                marcante correspondia à  Guerra
                                                do Peleponeso, que se iniciara
                                                em 432. Eurípedes não
                                                assistiria ao seu desfecho, com
                                                a derrota de Atenas, ocorrido
                                                em 405, um ano após a
                                                sua morte.
                                                
                                                Teria escrito 92 peças,
                                                das quais restaram 18. Ainda
                                                que não exista classificação
                                                consensual, é possível
                                                destacar desse legado alguns
                                                conjuntos através dos
                                                quais sua obra tornar-se-ia perenemente
                                                festejada.
                                                
                                                A exemplo de Ésquilo e
                                                Sófocles, dentre as peças
                                                preservadas as grandes famílias
                                                malditas da mitologia grega ocupam
                                                lugar destacado, a Labdicida
                                                (Édipo e descendência)
                                                e a Atridas (Agamenon e descendência).
                                                Em relação à primeira,
                                                Eurípedes recupera os
                                                antecedentes registrados na mitologia.
                                                A peça Os fenícios resume
                                                a história de Tebas, numa
                                                versão diversa da conhecida
                                                em relação a Jocasta
                                                (a mãe de Édipo
                                                que se torna sua esposa), que
                                                aparece como uma velha, sem referência
                                                ao fato de que se teria enforcado
                                                ao descobrir a verdade de seu
                                                trágico destino. Dentre
                                                os membros dessa família
                                                maldita, são personagens
                                                Antígona (cuja saga é tema
                                                da peça de Sófocles
                                                assim denominada), bem como seus
                                                irmãos (Eteocle e Polinice).
                                                Estes são os principais
                                                personagens da peça Os Sete
                                                contra Tebas, de Ésquilo
                                                e também na peça Os
                                                suplicantes, do próprio
                                                Eurípedes.
                                                
                                                Na peça Os fenícios,
                                                Eurípedes coloca ao próprio Édipo.
                                                Outra de suas peças relacionadas
                                                aos antecedentes dos Labdicidas é As
                                                bacantes. Está dedicada
                                                a Dionísio, deus da vegetação
                                                e do vinho, filho de Zeus e Semele,
                                                também chamado de Baco.
                                                Dionísio volta à sua
                                                terra natal (Tebas) e depara-se
                                                com a hostilidade da própria
                                                família. A peça
                                                fixa a maneira como se estabeleceu
                                                o culto de Dionísio, que
                                                consiste de verdadeiras orgias.
                                                Friedrich Nietzsche (1844/1900)
                                                procurou enfatizar o contraste
                                                entre essa linha orgiátisca
                                                (dionisíaca) e o culto
                                                da racionalidade (apolínea,
                                                por referência a Apolo,
                                                deus da beleza, das letras e
                                                das artes), ambas existentes
                                                na Grécia Antiga.
                                                
                                                Contudo, o grande tema de Eurípedes
                                                parece ter sido Agamenon e sua
                                                descendência. Esta é objeto
                                                de quatro peças (Ifigênia
                                                em Tauride; Ifigênia
                                                em Aulis; Eletra e Orestes).
                                                O comandante das tropas gregas
                                                na guerra de Tróia é a
                                                grande presença de Hecuba; As
                                                troianas e Helena.
                                                Alguns estudiosos consideram
                                                entretanto que o tema da guerra é o
                                                que de fato o teria mobilizado, à vista
                                                da presença desta na vida
                                                cotidiana da Atenas de seu tempo,
                                                embora todos reconheçam
                                                ser temerário associar
                                                a obra dos grandes dramaturgos
                                                gregos à problemática
                                                que lhes era contemporânea.
                                                Ainda assim, Os suplicantes é destacada
                                                como sendo uma franca condenação à guerra.
                                                
                                                O tema de Os suplicantes é a
                                                questão do direito dos
                                                mortos ao enterro de forma que
                                                possa o seu túmulo ser
                                                velado pelos parentes próximos,
                                                direito que não é reconhecido
                                                em Tebas. Na disputa do trono
                                                com o irmão, Polinice
                                                se alia aos chamados “sete
                                                chefes” de Argos, de que
                                                resulta a morte tanto dos filhos
                                                de Édipo em disputa como
                                                de seis dos guerreiros de Argos,
                                                e o problema de sepultá-los
                                                em território adequado.
                                                Na condição de
                                                rei de Tebas, Creon (irmão
                                                de Jocasta) recusa a Polinice
                                                o direito de ser ali enterrado,
                                                o que provoca a revolta de Antígona.
                                                Teria procedimento análogo
                                                em relação aos
                                                guerreiros de Argos mortos no
                                                conflito. Os três grandes
                                                dramaturgos trataram do tema
                                                a seu modo. Na peça de
                                                Eurípedes é o sobrevivente
                                                daquela disputa, Afraste, rei
                                                de Argos, que secunda a reivindicação
                                                das viúvas e demais parentes.
                                                O incidente prenuncia novo conflito.
                                                Solicitado a intervir, Teseu,
                                                rei de Atenas, deixa entrever
                                                que para reconquistar cadáveres,
                                                parece absurdo que seja necessário
                                                aumentar o seu número,
                                                fazendo surgir novas vítimas
                                                que, por seu turno, deixarão
                                                inconsoláveis as outras
                                                mães que também
                                                vão querer prestar-lhes
                                                as últimas honras. O sem
                                                sentido da guerra transparece
                                                igualmente no que se poderia
                                                denominar de “ciclo troiano”  do
                                                autor.
                                                
                                                Obtiveram grande sucesso de público,
                                                no Ocidente, duas personagens
                                                femininas presentes às
                                                peças de Eurípedes:
                                                Medéia e Fedra. Duas mulheres
                                                tão ensandecidas pelo
                                                amor que as leva a toda sorte
                                                de desatinos (Ver também Hipólito e Medéia,
                                                de Eurípedes; Hecuba e As
                                                troianas, de Eurípedes;
                                                e ÉSQUILO e SÓFOCLES).
                                               
                                               
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