Dicionário das Obras Básicas da
Cultura Ocidental

Antonio Paim

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(O) Ensaio sobre o entendimento humano, de Locke

O Ensaio sobre o entendimento humano, de John Locke (1632-1704), foi muito bem sucedido no que se refere à atribuição de um novo objeto a filosofia, embora não se trate propriamente da aceitação das teses e da doutrina lockeana. Segundo o seu entendimento, a filosofia resumir-se-ia a uma teoria do conhecimento.

Locke estabelece como premissa geral, no Livro I, a tese de que não há idéias nem princípios inatos. A suposição de que o homem estaria de posse desse tipo de conhecimento aparece ainda na Filosofia Antiga. Platão a denomina de anamnese (reminiscência, recordação) e a define deste modo no diálogo Menon: “Como a alma é imortal e nasceu muitas vezes e viu todas as coisas, tanto aqui como no Hades, nada há que ela não tenha apreciado; de modo que não espanta o fato de que possa recordar, seja em relação à virtude, seja em relação a outras coisas, o que antes sabia”. Essa hipótese foi preservada pelo platonismo e reaparece no Renascimento, sendo retomada por autores ingleses do século XVII, contra os quais se volta Locke. Embora lhe dando uma formulação nova, as idéias inatas são admitidas por Descartes e Leibniz. Para este são inatas as verdades que se revelam imediatamente como tais à luz natural, sem necessidade de recorrer-se a outra verificação.

O que Locke deseja estabelecer é que não seja reconhecida outra origem do conhecimento além da experiência sensível. Essa questão está estudada no Livro II.

Ao explicitar a sua tese, Locke introduz uma distinção nas qualidades que iria suscitar grandes discussões entre os sensualistas. A distinção em apreço consiste em indicar que algumas delas são exteriores e outras interiores. Assim, a dureza e a extensão dos objetos, isto é, as qualidades que podemos perceber pelo tato ou pela visão, são independentes de quem as perceba. No que se refere entretanto ao olfato ou ao gosto, as qualidades dos objetos que lhes estão relacionadas encontram-se na dependência de quem as perceba.

Às primeiras denominou de qualidades primárias e as últimas de qualidades secundárias. Essa doutrina ensejou muita discussão, aparecendo inclusive a tese de que todas as sensações seriam subjetivas. Para evitar as dificuldades advindas dessa tese de Locke, Hume dirá que todo o conhecimento vem de fato da experiência sensível mas o que esta fornece é uma impressão primeira.

No Livro II, Locke estuda ainda algumas idéias que na tradição filosófica foram chamadas de categorias, justamente porque não se acham vinculadas a seres individuais. São, por exemplo, as idéias de relação e causa. Obviamente não podem originar-se diretamente da experiência sensível. Mas Locke passa por cima dessa dificuldade.

No Livro III, estuda as palavras e não acrescenta grande coisa à sua doutrina.

Finalmente, no Livro IV afronta a delicada questão de Deus. Admite que dele possamos ter um conhecimento demonstrativo, o que foi considerado como a grande incoerência de sua doutrina. (Ver também LOCKE, John).

 

 

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