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Dicionário das Obras
Básicas da
Cultura Ocidental
Antonio
Paim
Índice: a - b - c - d - e - f - g - h - i - j - k - l - m - n - o - p - q - r - s - t - u - v - x - w - z
Dom Quixote,de Cervantes
Miguel de Cervantes (1547/1616),
nascido na Espanha, viveu na
Itália onde, entre outras
coisas, alistou-se nas tropas
que deviam enfrentar a invasão
turca, tendo participado da famosa
batalha de Lepanto ,
na qual perdeu a mão esquerda.
Em seu regresso à Espanha
caiu prisioneiro dos turcos,
condição em que
viveu durante cinco anos, quando
os familiares conseguiram a quantia
exigida pelo resgate, forma habitual,
na época, pela qual era
negociada a liberdade de prisioneiro
de guerra. Chegado finalmente á Espanha
ainda permanece como militar
durante algum tempo, radicando-se
em seguida em Madrid. Exerceu
funções públicas,
sendo nessa fase da vida que
escreveu Dom Quixote,
cuja primeira parte foi editada
em 1605 e, a segunda, dez anos
depois. Somente após a
sua morte teria o seu talento
reconhecido. Escreveu também
obras teatrais e outras novelas,
como então se denominava
o gênero literário
de sua obra capital.
Dom Quixote é uma
obra satírica, destinada
a ridicularizar as novelas
de cavalaria, gênero
dominante durante a Idade Média
e que ainda contava com grande
popularidade em seu tempo.
Embora o Renascimento, em pleno
curso, viesse suscitando uma
nova valoração,
os valores da cavalaria foram
vivenciados pela elite governamental
durante séculos e não
poderiam desaparecer de chofre.
No período em que viveu
Cervantes, o Rei da França,
Henrique II (1519/1559), faleceu
em decorrência dos ferimentos
recebidos numa justa (combate
entre dois cavaleiros armados
de lança, geralmente
para homenagear alguma dama
ou simplesmente disputá-la).
Alonso Quijano (ou Quesada, não
se sabe direito), aficionado à literatura
cavaleiresca, de que lera tudo
e possuía uma vasta biblioteca,
enlouqueceu e passou a supor
que era o cavaleiro Dom
Quixote. Encontra um nome adequado
para a sua montaria (Rocinante)
e consegue que um visinho aceite
a condição de escudeiro
(Sancho Pança), inventa
uma dama à qual dedicaria
os seus feitos (Dulcinéia)
e sai para o mundo numa excursão
desarvorada e hilariante. Ao
deparar-se com qualquer situação,
fantasia logo um correlato com
o que aprendera nas suas leituras.
Numa certa altura diz ao escudeiro; “A
aventura vai encaminhando os
nossos negócios melhor
do que o soubemos desejar”.
E lá vai o nosso herói
disposto a enfrentar nada mais
nada menos do que quarenta gigantes.
Em vão Sancho Pança
o advertirá de que se
trata na verdade de moinhos de
vento. “Não fujais,
covardes e vis criaturas; é um
só cavaleiro que vos investe”. “...com
a lança em riste arremeteu
contra o primeiro moinho que
estava diante, e dando-lhe uma
lançada na vela, o vento
a volveu com tanta fúria
que fez a lança em pedaços,
levando desastradamente cavalo
e cavaleiro, que foi rodando
miseravelmente pelo campo fora.” Nessa
e em todas as circunstâncias
o nobre cavaleiro encontrará uma
explicação para
o desastre. E prosseguirá incólume
em busca de despojos que os fará enriquecer,
além de que “é boa
a guerra e bom serviço
faz a Deus quem tira tão
má raça da face
da terra.”
Ainda que o livro de Cervantes
haja suscitado muitas interpretações
que a consideram uma espécie
de síntese da vida humana,
dividida entre o sonho e a realidade ,
cabe lê-lo de forma descontraída,
a fim de colher todo o prazer
que pode proporcionar. Tendo
já tomado contato com
os textos mais renomados da novela
cavaleiresca, é possível
dar-se conta de como uma geração à cata
de valores chegou a considerar
ridículos os feitos heróicos
ali relatados. (Ver também A
Canção de Rolando)
No
século XVI, o chamado
Império otomano (turco)
alcança sucessivas
vitórias na Europa,
ocupando o território
correspondente à Romênia,
Bulgária, Grécia
e parte da Hungria, chegando
a ameaçar Viena. A
batalha de Lepanto (1571)
marca o estancamento de sua
expansão. A libertação
dessa parte da Europa demora
séculos, somente se
concluindo nos começos
do século XX.
Num
texto muito festejado, o
jurista e político
brasileiro San Tiago Dantas
considerou que Dom Quixote retrataria
a situação
dos ocidentais cujo progresso
repousaria no culto de sucessivas
utopias (Dom Quixote:
um apólogo da alma
ocidental).
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