APRESENTAÇÃO
A cultura ocidental produziu
um conjunto de livros
que se considera seriam
expressivos e definidores
de sua feição.
Alguns autores os denominam
de Canon, existindo
relativo consenso quanto
aos títulos que
o integram.
Para compor o presente
Dicionário, adotamos
a relação
elaborada pela entidade
cultural brasileira denominada
Instituto de Humanidades,
que consiste numa síntese
das
propostas do St. John’s
College, americano, e
da Open University inglesa,
consideradas como
os melhores padrões
na matéria. O
Instituto de Humanidades é uma
organização
mantida por
professores universitários
do Rio de Janeiro, São
Paulo e Paraná,
constituída no
início dos anos
oitenta com o propósito
de contribuir para a
recuperação
da tradição
humanista do ensino
brasileiro, abandonada
a partir das reformas
da década de sessenta,
e também para
implantar a
educação
para a cidadania, inexistente
em nosso país.
Tanto o St John’s
College como a Open University
incluem, entre as obras
básicas
da cultura ocidental,
a Bíblia e os
textos essenciais das
grandes personalidades
religiosas;
filósofos, moralistas;
estudiosos da sociedade
e pensadores políticos;
e ainda as mais
significativas expressões
da literatura. Discutiu-se
longamente a forma pela
qual a ciência
seria
incorporada às
humanidades, optando-se
pela inclusão
da obra dos cientistas
que marcaram o
processo de sua constituição
e evolução,
inseridos em seus respectivos
momentos históricos.
O
St John’s College
considera que a formação
humanista compreende
a familiaridade com os
expoentes da música
clássica. Em relação às
artes, de um modo geral,
as listas costumam
incluir A história
da arte, de Ernst Gombrich
(1909/2001) levando em
conta o seu sucesso
junto ao público
e o fato de que corresponde
a uma forma cômoda
de aproximar desse tema
aos
interessados em obter
formação
geral.
Na Europa, sem embargo
da atenção
dispensada à formação
profissional
especializada, os mais
importantes centros universitários
souberam preservar a
tradição
humanista. Nos Estados
Unidos, ainda que a expansão
do ensino universitário
haja ocorrido
com o sacrifício,
nos novos estabelecimentos,
da passagem obrigatória
pelo Liberal Arts – onde
os alunos entram em contato
com as grandes obras,
no espírito aqui
considerado –,
criou-se o
Endowment for Humanities,
que se incumbe de difundir
a cultura geral fora
dos marcos do
sistema constituído
de ensino.
Como a chamada “sociedade
da informação”,
em que ora vivemos, proporciona
grande dispersão
da informação,
este Dicionário
pode ser de grande utilidade
no que respeita
ao acesso à cultura
geral de forma expedita
e sem a preocupação
de especializar-se.
O Dicionário louva-se
da conceituação
da cultura ocidental
resultante do
conhecimento aprofundado
que se adquiriu da Idade
Média, notadamente
desde A sociedade
feudal (1939-1940), de
Marc Bloch (1886-1944).
Segundo tal entendimento,
a cultura ocidental
nasce sob o feudalismo
e somente se pode falar
deste, com propriedade,
a partir da derrota dos
chamados “novos
bárbaros” (sarracenos,
normandos e húngaros),
que se consuma em meados
do século X.
A cultura ocidental corresponde à fusão
do cristianismo com o
feudalismo. Em
outros contextos, o cristianismo
não produziu a
cultura ocidental. Assim,
o ciclo histórico
que
se seguiu à sua
adoção
por Constantino, no século
IV de nossa era, caracteriza-se
pela
decadência do Império
Romano e sua capitulação
perante as denominadas
hordas bárbaras.
A
simbiose do cristianismo
com o Estado Patrimonial,
através da Igreja
do Oriente, fez surgir
a
cultura bizantina.
No processo de estruturação
da cultura ocidental,
além do cristianismo
e do
feudalismo intervêm
outros ingredientes importantes,
como o racionalismo grego
e as
instituições
romanas. Como se sabe,
o reencontro da Europa
com os seus antecedentes
grecoromanos é fenômeno
tardio, ocorrido com
maior intensidade a partir
dos séculos XI
e XII. O
desdobramento do processo
torna patente que a base
fundamental de nossa
cultura corresponde
ao que se convencionou
denominar de religião
judaico-cristã.
O Novo Testamento formulou-se
claramente como a continuidade
da tradição
judaica inscrita no Velho
Testamento. Nesse
contexto, o cerne e a
diferença essencial
em relação à outra
componente formadora,
grecoromana,
consiste na lei moral
obrigatória para
todos.
Estes são, em
síntese, os parâmetros
adotados na seleção
do que estamos
denominando de “obras
básicas da cultura
ocidental”, comumente
designado como Canon
Ocidental.
Na elaboração
dos verbetes, seguimos
este procedimento: de
todos os autores
selecionados inserimos,
de modo autônomo,
a indicação
dos dados biográficos.
Em alguns
casos, neste mesmo verbete
damos notícia
da obra, com maior ou
menor abrangência,
dependendo da existência
ou não de caracterização
independente. A remissão é feita
através de
menção
expressa no fim do texto,
aos outros verbetes que
o complementam, tanto
para obras
como autores.
Para a elaboração
deste Dicionário,
contei com a inestimável
colaboração
dos
colegas do Instituto
de Humanidades, que acompanharam
o meu trabalho, estimulando-o
com
valiosas observações
críticas. No caso
particular de Leonardo
Prota e Ricardo Vélez
Rodriguez
proporcionaram-me a solução
de questões complexas
em relação
a autores com os quais
dispunham de maior familiaridade,
autorizando-me inclusive
a adotar certas de suas
formulações
que aparecem em textos
por eles publicados.
A todos deixo de público
os mais
sinceros agradecimentos.
Janeiro de 2007.
Antonio Paim