CONSTANT, Benjamin
Nasceu na Suíça
(Lausane), em 1767, tendo recebido
uma educação verdadeiramente
enciclopédica, concluindo
as universidades de Erlangen,
na Alemanha e Edimburgo, na Escócia,
ao mesmo tempo em que, desde
jovem, freqüenta os círculos
eruditos de Paris. Casou-se pela
primeira vez aos 22 anos, em
1789, mas preferiu uma vida aventurosa
em matéria amorosa ao
se radicar em Paris, a partir
de 1795. Teve uma grande paixão
por Mme. de Stael (da nobreza
suíça, casada com
o embaixador da Suécia
em Paris, autora de obras bem
sucedidas, inclusive texto consagrado
sobre a cultura alemã,
dando a conhecer os grandes filósofos
da época, a começar
de Kant). Sendo francamente um
pensador de inspiração
liberal (nessa época a
doutrina não tinha tal
denominação e quando
os whigs, na Inglaterra,
adotam o nome de Partido Liberal,
em 1832, já havia falecido),
incompatibilizou-se tanto com
a Revolução Francesa
como com Napoleão. Este
o exilou, juntamente com Mme.
de Stael, em 1803.
Na fase dos chamados “cem
dias”, no ano de 1815,
quando Napoleão, depois
de ter sido forçado a
abdicar, retoma o poder, Benjamin
Constant aceitou a incumbência
de redigir-lhe uma Constituição,
o que foi considerado como prova
de grande ingenuidade. Com a
Restauração ingressa
na vida política e consegue
destacar-se como parlamentar.
Apesar da vida atribulada, pela
inclinação boêmia,
do mesmo modo que em decorrência
de perseguições
políticas e exílios – fatos
estes que consumiram pelo menos
a metade de sua vida adulta – logrou
grau elevado de elaboração
de sua doutrina política,
embora declarasse insistentemente
ter outro objetivo seu projeto
teórico, como indicaremos.
Na fase em que esteve incompatibilizado
com a situação
e sem possibilidade de atuar
na política, redigiu uma
grande quantidade de manuscritos.
Contudo, somente sob a restauração
conseguiu ordená-los.
Sua obra se subdivide, basicamente,
em dois grandes grupos. Consiste
o primeiro na elaboração
de sua teoria política,
de inspiração liberal,
que representa uma grande contribuiç ão
para o desenvolvimento da doutrina
no começo do século.
Justamente esse ponto de partida é que
seria retomado por François
Guizot (1787-1884) para formular
o chamado liberalismo doutrinário,
durante largo período
uma referência fundamental,
em contraponto com a experiência
inglesa. A obra de Tocqueville
(1805-1859) também entronca
não apenas com os doutrinários
mas igualmente com Constant,
cujo texto básico na matéria
seriam os Princípios
de política (1815).
A segunda parcela corresponde
ao que o próprio Constant
entendia como sendo o projeto
de sua vida: uma grande obra
sobre a religião. Entre
1824 e o ano da morte (1830)
publicou-a em cinco volumes,
com esta denominação Da
religião considerada em
sua fonte, sua forma e seus desenvolvimentos.
Sua intenção era
indicar que, a exemplo de outras
esferas da vida humana, o desenvolvimento
da religião depende da
liberdade. Na sua visão,
o sacerdócio seria um
empecilho a que tal ocorresse.
Sendo protestante, manifesta
a convicção de
que a Igreja reformada tem melhores
condições de atender
a tal imperativo. Parece-lhe
que “a igreja marchará com
as idéias, esclarecer-se-á com
a inteligência, será depurada
com a moral e sancionará,
em cada época, o que esta
tiver de melhor. Em cada época,
reclamemos sem cessar a liberdade
religiosa; ela cercará a
religião de uma força
invencível e garantirá seu
aperfeiçoamento. Assim
o entendia o divino autor de
nossa crença, quando,
estigmatizando os fariseus e
os escribas, reclamava para todos
a caridade, para todos a luz,
para todos a liberdade”.
Publicou um livro intitulado Adolfo que
se considera retrataria seu atribulado
caso amoroso com Mme. de Stael.
Estudioso do liberalismo doutrinário
e da obra de Constant, Ubiratan
Macedo aprecia-a deste modo: “O
sucesso de Benjamin Constant
deve-se certamente ao fato de
que é um pensador sistemático.
Aliás o liberal mais sistemático
do século, de vez que
os ingleses não se preocupavam
com esse aspecto e tratavam as
questões à medida
de seu surgimento, cuidando sem
dúvida de preservar a
coerência geral. ... É interessante
consignar que Benjamin Constant,
tendo se tornado o líder
da oposição liberal
no período da Restauração
era considerado, em seu tempo,
homem de esquerda. Como tal o
apontavam as litografias da época
(“Chef de la Gauche”),
sendo portanto uma grosseira
simplificação o
terem apontado em nosso país
como reacionário. Quase
um tradicionalista, pela influência
que exerceu sobre Pedro I. sem
dúvida é mais certo
admitir que Pedro I dele se aproximou
justamente por sua condição “subversiva”.
O nosso primeiro imperador lutou
denodadamente contra o absolutismo
monárquico e na formação
desse seu espírito liberal
o conhecimento da obra de Benjamin
Constant há de ter desempenhado
um papel decisivo, fato atestado
por seu biógrafo Octavio
Tarquínio de Sousa. Não
seria estranho à predileção
do nosso primeiro impererante
a tumultuada vida pessoal de
Benjamin Constant: paixões
e casamentos sucessivos, duelos,
a postura boêmia, nada
conservadora”. (O liberalismo
doutrinário in Evolução
histórica do liberalismo.
Belo Horizonte, Itatiaia, 1987,
p. 36-37).
Quando faleceu, em 1830, Benjamin
Constant tinha 63 anos. (Ver
também GUIZOT,
François).
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