Comédias, de
Shakespeare
Shakespeare escreveu doze comédias.
A exemplo das tragédias
e dos dramas históricos,
os estudiosos estabelecem entre
elas uma certa hierarquia. Seis
delas seriam grandes comédias,
bem entendido, estariam ao nível
do seu autor, desde que de fato
todas são muito apreciadas,
têm um enredo intrincado
e sempre acabam bem. As excepcionais
seriam: Trabalhos de amor
perdido; O sonho de uma noite
de verão; O mercador de
Veneza; Muito barulho por coisa
nenhuma; Como gostais e Noite
de reis. São os seguintes
os títulos das demais: Os
dois fidalgos de Verona; As alegres
comadres de Windsor; Medida por
medida; A comédia dos
erros; A megera domada e Tudo
está bem quando bem termina. Na
comédia, como na tragédia
resplandece o gênio Shakespeare.
Em muitos casos, as comédias
consistem na reelaboração
e enriquecimento de histórias
consagradas que se preservaram
e foram popularizadas depois
do aparecimento da imprensa.
Embora partindo da temática
consagrada, como escreve Oscar
Mendes, “Shakespeare deu-lhe
mais complexidade, mais flexibilidade,
mais fluidez, tornando-a um desfile
variegado de surpresas, de inverosimilhanças,
de intrigas que se complicam
sempre mais, levando o espectador
a um clímax de excitação
e curiosidade ansiosa que somente
o desenlace feliz, alegre, satisfatório,
consegue aliviar”.
O tema dominante é sempre
o amor, vítima de desencontros
que suscitam confusões
capazes de prender o público
e também de diverti-lo
grandemente. Noite de reis,
que é incluída
entre as “grandes comédias”,
por todos os grandes estudiosos
de Shakespeare, pode servir de
exemplo do tipo de trama e das
situações desencontradas.
Dois irmãos gêmeos
(Viola e Sebastião) acabam
separados por um naufrágio
e imaginam-se mortos, embora
ambos hajam sido salvos, sem
o saber. A moça, tendo
perdido a oportunidade de entrar
para o serviço de uma
rica Condessa, disfarça-se
com trajes masculinos e, nessa
condição, provoca
paixões. Até que
o irmão reapareça
e tudo torne-se claro, há outros
equívocos de personalidade.
Entram em cena tipos exóticos
e equívocos paralelos
ao central.
Ainda que em todas elas haja
um toque de realismo, de modo
a fazer crer que se trata de
gente de carne e osso, as comédias
são geralmente intemporais
e sem representar lugares conhecidos,
capazes de permitir comparações.
Sua ação
transcorre em Cortes idealizadas,
sem localização
precisa. A única exceção
dá-se no caso de As
alegres comadres de Windsor. Segundo
a tradição, esta última
teria sido elaborada a fim de
atender a uma sugestão
da Rainha Elizabete I no sentido
de que relatasse os amores de
Falstaff, personagem que tanto
sucesso alcançara nos
dramas históricos.
Há ainda a observação
de que nas comédias encontra-se
a maior galeria de mulheres jovens
e atraentes, criada por Shakespeare.
(Ver também SHAKESPEARE,
William e Tragédias,
de SHAKESPEARE).
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