Dicionário das Obras Básicas da
Cultura Ocidental

Antonio Paim

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Ciência da Lógica, de Hegel

Quando procedia à elaboração da Fenomenologia do Espírito, Hegel pretendia que corresponderia à primeira parte do que então se chamava de “Sistema da ciência”, isto é, um sistema filosófico com pretensões a durar eternamente, que era a grande ambição dos pensadores alemães que se seguiram imediatamente a Kant. A Lógica deveria ser a segunda parte, seguindo-se a Filosofia da Natureza e a Filosofia do Espírito. Ao realizar esse projeto, na Enciclopédia, não encontrou mais um lugar para situar a Fenomenologia. Esta ter-lhe-á servido sobretudo para mostrar que poderia chegar a uma formulação ainda mais abstrata do caminho ali percorrido. Deste modo, a Lógica constitui a metafísica hegeliana. Apesar da aposta de Hegel, a posteridade atribuiu maior importância à Fenomenologia, considerando que a sua gnoseologia marcaria um momento decisivo na Filosofia Ocidental enquanto a sua metafísica acabaria inteiramente ultrapassada e esquecida.

A Lógica está subdividida em três grandes seções: a doutrina do ser, a doutrina da essência e a doutrina do conceito.

Na primeira seção estão consideradas categorias como a qualidade e a quantidade, além das determinações do ser. Na doutrina da essência estuda a sua relação com a categoria da existência; o fenômeno e o mundo do fenômeno; conteúdo e forma; relação, substância, causalidade e ação recíproca. Finalmente, na terceira apresenta o seu entendimento do conceito e examina temas clássicos como o do juízo, do silogismo, do mecanismo, da teologia etc., para chegar à idéia absoluta.

Hegel identifica o pensamento e a coisa pensada. Mais ainda: saber e absoluto se confundem. O saber absoluto tampouco é diferente do saber imediato, do qual parte a Fenomenologia, equivalendo à sua tomada de consciência. O discurso da Lógica é, portanto, o discurso do Absoluto. Por esse meio imaginava ter chegado a uma síntese que nada deixaria de fora.

Acredita também que a linguagem humana seja a reflexão interna do ser tomado em si mesmo, como também a fusão do mediato e do imediato. Tem em vista, naturalmente, a linguagem elaborada filosoficamente. A filosofia ocupa-se de demonstrações intrínsecas, isto é, interiores ao discurso, que, no fundo, achava que traduziria plenamente o real. As demonstrações extrínsecas são do âmbito da matemática.

Embora aceitando a eliminação do “fantasma da coisa em si”, efetivada pelos seguidores imediatos de Kant, Hegel não se propõe restaurar a perspectiva transcendente, isto é, a filosofia antiga e medieval, abandonada a partir de Kant. Em suas mãos, o Absoluto transforma-se numa grande construção, que não deve ser considerada em seus segmentos isolados mas na totalidade. (Ver também Fenomenologia do espírito, do autor).

 

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