(A) Cidade grega, de
Gustave Glotz
Apareceu em 1958. Corresponde à aplicação
do esquema marxista da luta de
classes à civilização
grega, na suposição
de que esse esquema geral servisse
para todas as circunstâncias
inclusive o singular milagre
grego.
Na perspectiva de Glotz, na Grécia
formaram-se duas classes, a dos
grandes proprietários
e a grande massa trabalhadora
onde mesmo os artesãos
e camponeses livres mal se distinguiam
dos escravos. E, prossegue:
essa situação teria
durado indefinidamente, “se
o regime econômico da Grécia
não tivesse sofrido uma
transformação completa,
iniciada no século VIII”.
Ao que acrescenta: “Até então,
as cidades não dispunham,
por assim dizer, de recursos
outros que os oriundos da agricultura
e da criação de
animais; pode-se dizer que a
estes só acrescentavam
o lucro auferido com trocas e
pirataria. Mas sobrevem
uma nova fase, em que os gregos
se dispersam por todo o litoral
do Mediterrâneo, em busca
de novas terras e de novos clientes;
entre as colônias e as
metrópoles, circulam incessantemente
produtos agrícolas, matérias-primas
e bens manufaturados; o comércio
e a indústria adquirem
um ritmo inusitado; perto dos
portos de grande movimento, multiplicam-se
as oficinas e organizam-se os
mercados. Assiste-se, desde então,
a uma troca de mercadorias de
qualidade inferior por algumas
cabeças de gado ou utensílios
de metal! É o reinado
da moeda que começa a
implantar-se. Com as cintilantes
pecinhas de âmbar, de ouro
e de prata, difunde-se o crédito
e o gosto da especulação.
Um capitalismo cada vez mais
audacioso domina o mundo grego,
deixando para trás a vida
mesquinha dos velhos tempos.”
O esquema explicativo de Glotz
está resumido nestes termos: “De
maneira geral, a nova ordem econômica
provocava rápido aumento
nas classes inferiores e agravava-lhes
a situação. À medida
que os ricos se iam tornando
mais ricos, mais se empobreciam
os pobres... Estava constituído
o exército da revolta.
Impunha-se-lhe encontrar chefes.
Uma elite, a burguesia, capaz
pela bravura, pelos hábitos
de trabalho, pela inteligência,
de tomar a liderança ...
colocou-se à frente da
força que se lhe oferecia.
Desde então a cidade viu-se
claramente dividida em duas.
Já se fora o tempo em
que os descontentes se limitavam
a gemer e a implorar os céus;
os místicos cediam lugar
aos violentos. Iniciava-se a
luta de classes”.
Como se vê, segundo o esquema
marxista não há nada
de novo no reino da terra, nem
mesmo capitalismo, burguesia e
outras categorias típicas
da Época Moderna.
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