Dicionário das Obras Básicas da
Cultura Ocidental

Antonio Paim

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       (A) Cartuxa de Parma, de Stendhal

O livro está dedicado à paixão tresloucada de um jovem italiano, Fabrício,  nas circunstâncias mais inusitadas. Preso numa cela isolada, enxerga por uma fresta a bela Célia Conti, filha do chefe do presídio em que se encontra (na verdade, uma fortaleza). É certo que a conhecera antes, num encontro rápido e sem conseqüências. Correspondido, encontram forma de comunicar-se e apaixonam-se perdidamente. O curioso é que o jovem Fabrício é descrito como pessoa volúvel, sempre às voltas com múltiplas amantes e, Célia Conti, como moça equilibrada e de bom caráter. Fabrício foge da prisão e acaba por ter anulada a sentença que o condenara. Célia Conti torna-se Marquesa de Crescenzi e Fabrício, por sua vez, alto dignatário da Igreja. É reconhecido como um grande pregador. Movida pelo ciúme às paixões que provoca na nova situação, Célia Conti entrega-se a ele e acha que cumpre a promessa de não lhe por os olhos porquanto o faz à noite e no escuro. Toda essa trama pareceria forçada e sem qualquer verossimilhança. Contudo, Stendhal consegue transformá-la num romance que prende o leitor ao mesmo tempo em que proporciona retratos vivos de personalidades diversas. No romance há outras figuras marcantes, como a duquesa Sanseverina, o déspota de Parma, seus sequazes e tantos outros.

Em sua longa estada na Itália, Stendhal descobriria, em arquivos privados, numerosos manuscritos dos séculos XV e XVII, com histórias pouco conhecidas, dedicadas a aventuras galantes e paixões incríveis, ocorridas com respeitáveis famílias da época, tendo conseguido adquiri-los. Depois de sua morte, aquela documentação, constituída de grossos volumes, foi comprada pela Biblioteca Nacional de Paris. Edições eruditas de A Cartuxa de Parma transcrevem, em Apêndice, aqueles dentre os mencionados textos que certamente inspiraram a Stendhal. Há ali uma Duquesa Sanseverina, decapitada em 1612 por haver conspirado contra o Príncipe de Parma. A mencionada documentação forneceria também a chave para identificar a fonte da história (ou histórias) que lhe permitiu imaginar e descrever  cada um dos seus principais personagens. Teria fugido a essa regra uma única vez, no capítulo inicial. Com a intenção de glorificar a Napoleão,  leva o seu personagem principal (Fabrício) a presenciar a batalha de Waterloo, que selaria o destino do Imperador, e também contrasta a ocupação francesa do Norte da Itália,  acolhida com agrado pela população, com a “detestável” ocupação austríaca. (Ver também STENDHAL e O Vermelho e o Negro)

 

 

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