(A)
Cartuxa de Parma,
de Stendhal
O livro está dedicado à paixão
tresloucada de um jovem
italiano, Fabrício, nas
circunstâncias
mais inusitadas. Preso
numa cela isolada,
enxerga por uma fresta
a bela Célia
Conti, filha do chefe
do presídio
em que se encontra
(na verdade, uma fortaleza). É certo
que a conhecera antes,
num encontro rápido
e sem conseqüências.
Correspondido, encontram
forma de comunicar-se
e apaixonam-se perdidamente.
O curioso é que
o jovem Fabrício é descrito
como pessoa volúvel,
sempre às voltas
com múltiplas
amantes e, Célia
Conti, como moça
equilibrada e de bom
caráter. Fabrício
foge da prisão
e acaba por ter anulada
a sentença que
o condenara. Célia
Conti torna-se Marquesa
de Crescenzi e Fabrício,
por sua vez, alto dignatário
da Igreja. É reconhecido
como um grande pregador.
Movida pelo ciúme às
paixões que
provoca na nova situação,
Célia Conti
entrega-se a ele e
acha que cumpre a promessa
de não lhe por
os olhos porquanto
o faz à noite
e no escuro. Toda essa
trama pareceria forçada
e sem qualquer verossimilhança.
Contudo, Stendhal consegue
transformá-la
num romance que prende
o leitor ao mesmo tempo
em que proporciona
retratos vivos de personalidades
diversas. No romance
há outras figuras
marcantes, como a duquesa
Sanseverina, o déspota
de Parma, seus sequazes
e tantos outros.
Em sua longa estada
na Itália, Stendhal
descobriria, em arquivos
privados, numerosos
manuscritos dos séculos
XV e XVII, com histórias
pouco conhecidas, dedicadas
a aventuras galantes
e paixões incríveis,
ocorridas com respeitáveis
famílias da época,
tendo conseguido adquiri-los.
Depois de sua morte,
aquela documentação,
constituída
de grossos volumes,
foi comprada pela Biblioteca
Nacional de Paris.
Edições
eruditas de A Cartuxa
de Parma transcrevem,
em Apêndice,
aqueles dentre os mencionados
textos que certamente
inspiraram a Stendhal.
Há ali uma Duquesa
Sanseverina, decapitada
em 1612 por haver conspirado
contra o Príncipe
de Parma. A mencionada
documentação
forneceria também
a chave para identificar
a fonte da história
(ou histórias)
que lhe permitiu imaginar
e descrever cada
um dos seus principais
personagens. Teria
fugido a essa regra
uma única vez,
no capítulo
inicial. Com a intenção
de glorificar a Napoleão, leva
o seu personagem principal
(Fabrício) a
presenciar a batalha
de Waterloo, que selaria
o destino do Imperador,
e também contrasta
a ocupação
francesa do Norte da
Itália, acolhida
com agrado pela população,
com a “detestável” ocupação
austríaca. (Ver
também STENDHAL e O
Vermelho e o Negro)
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