Dicionário das Obras Básicas da
Cultura Ocidental

Antonio Paim

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BERGSON, Henri

Nasceu em Paris em 1859, numa família judia estabelecida e culta, tendo revelado desde cedo grande interesse pela matemática. Seria aluno destacado dos melhores colégios, tendo concluído o curso universitário na tradicional École Normale Superiéreure, em 1881, aos 22 anos, onde adquiriu sólida formação filosófica. Seguiu a carreira de professor de filosofia no ensino secundário (Liceu). Ao longo das duas décadas seguintes, chegou a algumas conclusões que soube comunicar ao público, permitindo-lhe tornar-se  professor do Collège de France, a partir de 1900, onde conquistou crescente renome. Naquele período publicou dois livros em que apresenta essa novidade (Essai sur lês données immédiates de la conscience e Matiére et mémoire).

Bérgson entendeu que a matematização do processo natural, efetivada pela ciência moderna, se proporcionara extraordinários progressos materiais e ampliação sem precedentes do conhecimento daquela realidade, deixou escapar algo de essencial. A matematização obrigou à espacialização do tempo, o que torna incompreensível a vida humana. O tempo real, que é o tempo vivido, não se fragmenta em pedaços estanques. Chamou-o de duração, para distinguí-lo do tempo medido (espacializado), com o qual lida a ciência. A seu ver, algo de parecido dava-se com o entendimento mecânico da natureza. Impediu que se vislumbrasse, nas descobertas efetivadas pelo evolucionismo, a presença de algo que em última instância o sustenta e explica, a força do espírito, por ele batizada de élan vital. Sendo um notável expositor, tendo suficiente habilidade para tornar suas idéias acessíveis, preservando as conquistas da ciência e, simultaneamente, restaurando a dignidade da pessoa humana, passou a figurar entre as pessoas mais famosas da França, no início do século XX, no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial. Suas aulas alcançavam estrondoso sucesso, provocando entusiasmo entre professores, estudantes e no público em geral, atraindo até mesmo turistas. Em 1911, o Collége de France é conhecido como a “Casa de Bérgson”.

L´evolution créatrice, que publicou em 1907, apresentando de forma brilhante o conjunto de sua filosofia, teve idêntica fortuna, vindo a ser traduzido nos principais países. A Igreja Católica, que mantinha a recusa de reconhecer a teoria da evolução – embora estivesse atenuado suas restrições à ciência moderna tomada em conjunto – colocou a obra de Bérgson no Index das leituras proibidas aos católicos.
A eclosão da guerra levou-o a dedicar-se a missões diplomáticas. Após o término da conflagração, teve uma atuação destacada na Liga das Nações.
No pós-guerra publicou dois outros livros que igualmente encontraram ampla acolhida junto ao público: L´énergie spirituelle (1919) e Durée et simultanéité. A propos de la théorie d´Einstein (1921).

A exemplo do que aconteceu com grande número de intelectuais, Bérgson ficaria chocado com a mortandade verificada durante a guerra. Isto o levaria a buscar uma forma de dar á moralidade ocidental um fundamento que, sem se vincular diretamente a essa ou áquela religião,  preservasse esse vínculo. A tentativa, embora correspondesse à sua plena identificação com a longa tradição do espiritualismo filosófico francês, não teve a mesma sorte dos livros anteriores.
Tendo decidido permanecer no país após a eclosão da guerra em 1939, bem como depois da derrota experimentada pela França, Bérgson teve dificuldades com o ocupante alemão e com o governo de Vichy. Em fins de 1940 registrou-se como judeu, submetendo-se a todas as restrições que a condição então impunha. Faleceu logo depois, a 3 de janeiro de 1941, aos 82 anos de idade.
Bérgson foi agraciado com o Prêmio Nobel em 1927. (Ver também As duas fontes da moral e da religião)

 

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