ARON, Raymond
Raymond Aron nasceu em
Paris em 1905 e notabilizou-se,
no último pós-guerra,
pela defesa da democracia
e da liberdade ameaçadas
na Europa pelo totalitarismo
soviético, que
contava com as simpatias
da imensa maioria da
intelectualidade francesa.
Atuou, assim, isolado
e como franco atirador.
Tendo falecido em 1983,
antes da queda do Muro
de Berlim e do
abandono, pelos russos,
da experiência
comunista, não
pôde assistir à vitória
de sua pregação.
Aron concluiu a Escola
Normal Superior de Paris
e seguiu a carreira do
magistério,
ingressando no Corpo
Docente da Universidade
de Colônia (1930)
e na Casa Acadêmica
de
Berlim (1931 a 1933).
A ascensão do
nazismo na Alemanha forçou-o
a regressar à França
onde
se inscreve no doutorado
em filosofia, concluído
em 1938. Interessava-o,
nesta fase inicial da
vida profissional, o
tema da filosofia da
história, a que
dedicou seus dois primeiros
livros: Essai
sur la théorie
de l’histoire dans
l’Allemagne contemporaine,
la philosophie critique
de
l’histoire (Paris,
Vrin, 1938) e Introduction à la
philosophie de l’histoire,
Paris, Gallimard,
1938. Considera-se que
seria o autor melhor
sucedido da filosofia
neokantiana da história,
tendo a essa matéria
dedicado ainda diversos
ensaios, alguns deles
reunidos no livro
Dimentions de la consciente
historique (Paris, Plon,
1960).
A guerra iria reorientar
a sua carreira e levá-lo à luta
política. Passando à Inglaterra
para combater no exército
de libertação
que estava sendo organizado
pelo General De Gaulle
(1890-1970), foi então
incumbido de conceber
e editar a revista La
France Libre, função
que
exerceu até fins
de 1944, quando se consuma
a libertação
de Paris da ocupação
alemã. Desde
então afeiçoou-se
ao jornalismo e nunca
mais o abandonou. Tornou-se
colaborador eminente
dos jornais Combat e
Le Figaro, bem como da
revista L’Express.
Regressando à atividade
acadêmica no pós-guerra,
ocupou-se do tema da
sociedade
industrial, procurando
averiguar o que tinha
de específico
e singular. Na visão
de Aron, o
essencial consiste na
separação
entre família
e empresa. Nesta, na
sociedade industrial
(que é
também sinônimo
de sociedade moderna),
a organização
da produção
não é determinada
pela
tradição
mas pela aplicação
sistemática da
ciência e da técnica.
Em conseqüência,
o
crescimento é uma
finalidade imanente a
esse tipo de sociedade.
A obra que dedicou ao
tema –
Dezoito lições
sobre a sociedade industrial;
A luta de classes e Democracia
e Totalitarismo –
minou pela base a pregação
soviética (marxista)
de que o embate central
se dava entre
socialismo (na visão
soviética, o comunismo
totalitário, que
nada tinha a ver com
a tradição
ocidental de socialismo
democrático) e
capitalismo. O verdadeiro
embate tinha lugar no
plano
da organização
política, isto é,
entre o sistema democrático
representativo e o sistema
cooptativo, aparecido
na Rússia e que
esta impôs ao Leste
Europeu e também
a outros países
(Cuba, por exemplo).
Desse contato com as
idéias dos autores
franceses e alemães
que abordaram em
caráter pioneiro
a questão do industrialismo
(na França, Saint-Simon
e Comte, sobretudo e,
na
Alemanha, Max Weber,
entre outros), produziu
alguns livros tornados
clássicos, como
A
sociologia alemã contemporânea
(1950) e Etapas do pensamento
sociológico (1967).
A crítica
do marxismo ocupa também
uma parcela expressiva
da obra de Aron. Nesse
conjunto, destacase
O ópio dos intelectuais
(1955).
Atuando na imprensa periódica
e vivenciando diretamente
o problema da paz e da
guerra, risco permanente
na Europa em decorrência
do expansionismo soviético,
compreendeu
que este é um
tema privilegiado na
história do Ocidente
e estudou-o com a profundidade
que
caracteriza as suas análises
nestes livros: Paz e
guerra entre as nações
e Pensar a guerra:
Clausewitz. Amostra expressiva
do seu método
de análise de
temas da política
cotidiana
encontra-se nos Estudos
políticos (1971).
No ambiente intelectual
francês em que
viveu, Aron achava que
a postura da
intelectualidade francesa
predispunha à derrota
diante da União
Soviética. Marcara-o
profundamente a capitulação
de Munique quando o Ocidente
consagrou a política
de expansão
de Hitler, admitindo
ilusoriamente que se
deteria no projeto de “reconstituir” as
fronteiras
alemãs tradicionais
no chamado Terceiro Reich,
e temia que a Europa
se encaminhasse na
direção
do capitulacionismo diante
do despotismo oriental,
simbolizado pelo Império
Soviético.
Entendia também
que o destino do Ocidente
estava associado à Aliança
Atlântica, onde
defendia a presença
dos Estados Unidos. O
essencial dessa pregação
reuniu-o no livro Em
defesa da Europa decadente
(1977). É autor
de uma distinção
importante entre o que
designou
como “liderança
americana”, a que
os Estados Unidos tinham
direito, legitimamente
e o que
chamou de “república
imperial”, comportamento
a que o país tinha
sido empurrado em certas
circunstâncias,
por ambições
imperialistas de correntes
políticas ali
existentes, como foi
o caso
da intervenção
no Vietnã.
Por sua combatividade
e persistência,
Aron conseguir formar
expressivo grupo de
intelectuais liberais,
que deram curso à sua
obra, após a sua
morte, em 1983. Presentemente
esse grupo acha-se reunido
em torno da revista Commentaire
e da Fundação
Raymond Aron.
(Ver também Estudos
políticos e (O) Ópio
dos intelectuais, do
autor).
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