Dicionário das Obras Básicas da
Cultura Ocidental

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ARISTÓTELES

Pela obra monumental que realizou, no sentido do ordenamento geral do saber, é a figura central do período histórico chamado “milagre grego”, que compreende aproximadamente de meados do século V antes de Cristo, quando se inicia o governo de Péricles em Atenas, aos fins do século IV, quando a Grécia perde a independência para a Macedônia. Costuma-se indicar que Aristóteles teria nascido no ano de 384, em Estagira, na Macedônia (sendo por isto às vezes chamado de “o Estagirita”). Tornou-se discípulo de Platão, em Atenas, durante cerca de vinte anos. Quando este faleceu (em 348), viajou pela Ásia Menor, estabelecendo-se finalmente na Corte do rei Felipe da Macedônia, onde foi preceptor de seu filho Alexandre, conquistador do mundo conhecido em sua época, graças ao que seria denominado de O Grande. Em 335, Aristóteles regressou a Atenas, onde fundou a sua própria escola, o Liceu. Em 323 foi obrigado a abandonar a cidade, devido à perseguição que lhe moviam os inimigos do ocupante macedônio. Faleceu no ano seguinte, com presumíveis 62 anos de idade.

Com a perda de independência da Grécia, primeiro para os macedônios e depois para Roma, vitimada também pelas subseqüentes invasões bárbaras, a obra de Aristóteles virtualmente desaparece. Os árabes é que se ocuparam de sua reconstituição, reintroduzindo-a na Europa através da Espanha. A tradução de textos gregos ao latim inicia-se no século XI, pelas obras relacionadas à medicina. A versão de textos aristotélicos começa no século XII, em Toledo. Por volta de 1165, chega àquela cidade Geraldo de Cremona, de quem se sabe pouco além do fato de que, sozinho, traduziu 71 textos gregos de Aristóteles, Euclides, Arquimedes, Galeno e outros. A familiaridade adquirida com a filosofia aristotélica por pensadores árabes e judeus obrigaria finalmente aos cristãos a dela tomar conhecimento. Tal se dá sobretudo a partir do século XIII.

Enfrentando todos esses percalços, a obra de Aristóteles acabaria perdendo-se em grande medida. Assim, por exemplo, sabe-se que colecionou 158 constituições mas somente se preservou os comentários que fez à Constituição de Atenas. Ainda assim, conseguiu-se uma idéia bastante precisa do conjunto. Neste sentido muito contribuiu o erudito escocês William David Ross (1877-1971), professor em Oxford (Inglaterra), que traduziu, editou e comentou longamente os textos de Aristóteles. Como uma espécie de coroamento desse trabalho, deixounos esta classificação do conjunto: I) Obras destinadas a um público relativamente extenso; II) coleções de materiais, provavelmente compilados por seus discípulos sob a sua direção e, finalmente, III) obras filosóficas e científicas redigidas – ou apresentadas em forma de aulas – por ele mesmo.

Dos textos do primeiro tipo conservaram-se sobretudo notícias ou fragmentos. Alguns deles seriam em forma de diálogo, destinando-se a familiarizar o público com o conteúdo de algumas disciplinas (filosofia, política, etc.) e também com as idéias de Platão. Nas coleções de materiais – segundo grupo – estariam as mencionadas Constituições. Acredita-se que tenha havido outras compilações científicas e históricas também não preservadas.

O terceiro grupo compreende o denominado Corpus Aristotelicum propriamente dito. Seria integrado por estes textos:

a) Obras lógicas que constituem o chamado Organon. Subdivide-se em seis livros, que se considera tenham sido praticamente preservados em sua inteireza (Categorias; Da interpretação; Analítica, em dois livros; Tópica e Sofística).

b) Filosofia natural: Física; Do céu; Da geração e da corrupção; Meteorológica. Nesse conjunto há um livro (Do mundo) que os estudiosos entendem não teria sido elaborado por Aristóteles.

c) Psicologia: (Da alma; Dos sentidos e da sensibilidade; Da memória e da reminiscência; Do sono e alguns outros).

d) Biologia: (História dos animais e algumas seções específicas tratando do comportamento; da geração, etc.).

e) Metafísica, denominação que foi dada aos textos do curso que se seguia à Física.

f) Ética. Preservaram-se três livros, sendo o primeiro a Ética a Eudêmono; o segundo A Grande Ética e o terceiro Ética a Nicômaco. Os estudiosos concluíram que o primeiro corresponderia à exposição do pensamento de Platão e somente o último equivaleria ao entendimento que Aristóteles tinha da questão. A Grande Ética seria uma mistura dos dois.

g) Política e Economia. Da grande massa de textos que teria dedicado a estas questões, preservou-se o que costuma ser editado com a denominação de A política.

h) Retórica e Poética. A obra que abrange essa temática veio a ser popularizada pelo livro O nome da rosa, de Umberto Ecco, que também deu lugar a um filme muito bem sucedido. Seria o texto que o bibliotecário do mosteiro quer evitar seja do conhecimento dos monges, porquanto, a seu ver, enfraqueceria o caráter.

Há várias edições das Obras de Aristóteles, tanto em latim como nas principais línguas latinas, em inglês e alemão. Em português, lamentavelmente, não é o caso. Inexiste uma tradução completa de A Metafísica. Os textos lógicos acham-se traduzidos do mesmo modo que a Ética a Nicômaco. (Ver também Ética a Nicômaco, Física, Metafísica e Política).

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