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Dicionário das Obras
Básicas da
Cultura Ocidental
Antonio
Paim
Índice: a - b - c - d - e - f - g - h - i - j - k - l - m - n - o - p - q - r - s - t - u - v - x - w - z
(A)
Cultura do Renascimento na
Itália, de Jacob
Burckhardt
Jacob Burckhardt (1818-1897)
nasceu na Basiléia, situada
na parte setentrional da Suíça,
nas proximidades dos principados
alemães que se reuniram
ainda em sua vida (1870) para
constituir a Alemanha. Estudou
na Universidade de Berlim, quando
foi discípulo de Ranke.(1) Tornou-se
docente no Instituto Politécnico
de Zurique, onde ensinava história
da arte. Adquiriu um profundo
conhecimento da cultura italiana
e, em geral, da Roma e da Grécia
antigas, tendo deixado, entre
outras obras, a História
Cultural da Grécia (em
cinco volumes), A Era de
Constantino, o grande e
o texto clássico dedicado
ao Renascimento. Antes do aparecimento
de A cultura do Renascimento
na Itália, em 1860,
Burckhardt publicou, em 1855, O
Cicerone, que de certa forma
o completa porquanto se trata
de um guia histórico dos
tesouros da arte italiana. Talvez
por isto, no livro dedicado ao
Renascimento, dispensou-se de
voltar a considerar este aspecto
marcante daquela época.
Tendo viajado sucessivamente à Itália,
Burckhardt era verdadeiramente
apaixonado pelo país e
por sua cultura.
O livro começa por um
amplo painel da estrutura estatal
vigente na Itália, considerando
que essa construção
seria empreendida como se se
tratasse de uma verdadeira obra
de arte. Quer fazer sobressair
a singularidade em relação
ao Ocidente, pela presença
de múltiplas formas de
governo, todas interessadas em
impedir a unidade, a começar
do Papado. Descreve-as de forma
detalhada, as tiranias, tanto
as do século XIV como
as do seguinte; as grandes dinastias;
a oposição aos
tiranos e as repúblicas.
Afirma que ali, “pela primeira
vez, o espírito do Estado
europeu moderno manifestou-se
livremente, entregue aos seus
próprios impulsos”.
Depois de estabelecer esta espécie
de pano de fundo, estuda as manifestações
que afirmam a individualidade.
A esse propósito, escreve: “Na
Idade Média, ... o homem
reconhece-se a si próprio
apenas enquanto raça,
povo, partido, corporação,
família ou sob as demais
formas do coletivo. Na Itália,
pela primeira vez, tal véu
dispersa-se ao vento, desperta
ali uma contemplação
e um tratamento objetivo do Estado
e de todas as coisas deste mundo.
Paralelamente a isso, no entanto,
ergue-se também, na plenitude
de seus poderes, o subjetivo:
o homem torna-se um indivíduo
espiritual e se reconhece enquanto
tal”.
Burckhardt ocupa-se dos diversos
segmentos da cultura, além
da política – e
da influência que sobre
esta exerceria a própria
cultura – a saber: as obras
científicas e literárias,
a moral e a religião,
e ainda o que denominou de “redescoberta
da Antigüidade”. Entende
que “não foi a Antigüidade
sozinha, mas sua estreita ligação
com o espírito italiano,
presente a seu lado, que sujeitou
o mundo ocidental”. O italiano é “o
primogênito dentre os filhos
da Europa atual”, enquanto
Petrarca(1) foi “um
dos primeiros homens inteiramente
modernos”.
Burckhardt entende que o livro
que, modestamente, designou,
no título, como “um
ensaio”, correspondia a
uma interpretação
e a uma visão pessoais,
que poderia perfeitamente ser
refutada. “Em obras de
história geral – afirma –,
há espaço para
diferenças de opinião
quanto aos objetivos e premissas
fundamentais. De modo que o mesmo
fato pode, por exemplo, afigurar-se
essencial e importante a um escritor,
mas nada mais do que mero entulho,
sem qualquer interesse, a outro”.
Sem embargo, o livro tornou-se
um texto clássico e uma
das obras capitais para a compreensão
do Renascimento. (Ver também Figuras
e idéias da filosofia
do Renascimento, de MONDOLFO,
Rodolfo).
(1) Ludolf
Von Ranke (1795-1886) é considerado
como o principal iniciador
do estabelecimento de princípios
científicos para a
elaboração
da história, tendo-lhe
atribuído como principal
missão reconstituir
como “os fatos se passaram”.
Embora o verdadeiro sentido
do conhecimento histórico
haja suscitado grandes disputas,
Ranke encaminhou a historiografia
numa direção
capaz de assegurar a sua
sobrevivência quando
movimentos políticos,
sobretudo de inspiração
marxista, buscaram instrumentalizá-la,
colocando-a a serviço
de seus objetivos.
(1) Francesco
Petrarca (1304-1374) foi
o primeiro dos grandes humanistas
do Renascimento. Sua glória
repousa nos poemas e sonetos
mas também no interesse
pelos textos clássicos,
que ajudou a difundir.
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