Crítica da Razão
Pura, de Kant
A Crítica da Razão
Pura, publicada em 1781, é por
muitos considerada a obra fundamental
de Kant. Concluiu sua elaboração,
depois de dez anos de trabalho,
com idade avançada (57
anos). Está dividida em
três grandes blocos, com
estas denominações:
Estética Transcendental,
Analítica Transcendental
e Dialética Transcendental.
Toma ao termo estética
na acepção grega
original (sensibilidade) e não
no sentido que veio a consagrar-se
na filosofia (teoria da arte
ou do belo).
As duas partes iniciais ocupam-se
daquilo que viria a ser considerado
novo objeto da filosofia (e até de única
investigação legítima),
a teoria do conhecimento. Corresponde
também a uma meditação
sobre a ciência que, a
partir de Newton, foi reconhecida
como novo saber da natureza,
em substituição à física
clássica. Por essa razão
também viria a ser conhecida
como filosofia da ciência.
Em síntese, o conteúdo
dessas partes iniciais é resumido
adiante.
Valendo-se da descoberta de Hume,
Kant estabelecerá uma
distinção radical
entre as coisas como seriam em
si mesmas e como aparecem para
nós (fenômenos).
Em nossa experiência cotidiana
lidamos apenas com estas últimas.
Essa distinção
tem por objetivo evidenciar que
os temas clássicos da
metafísica tradicional,
ressuscitados por Wolff, não
podem ser resolvidos discursivamente,
com base na argumentação
racional. Os temas em apreço
são os seguintes: 1º)
finitude ou infinitude do mundo;
2º) sobrevivência
da alma; 3º) existência
de Deus.
O discurso filosófico
tem que estar adstrito à experiência
possível. Assim se estabelece
uma nova perspectiva filosófica,
um novo ponto de vista último.
Como posso me aproximar da experiência
possível? De um modo transcendental.
Daí que a nova perspectiva
veio a ser assim denominada.
No ordenamento lógico
dos conceitos, Aristóteles
chamou de categorias aqueles
termos que se aplicam aos objetos,
sendo distintos destes, tais
como causa, efeito, relação,
igualdade, etc. Alguns desses
termos têm maior grau de
universalidade como o verdadeiro
e o bom. A estes últimos
denominou-se, na Escolástica,
de transcendentais.
Ao empregar o termo, Kant o define
deste modo: “chamo transcendental
todo conhecimento que, em geral,
não se ocupa tanto dos
objetos como de nossos conceitos a priori dos
objetos”. A priori para
Kant é aquilo que não
provém da experiência.
Transcendental é, portanto,
uma forma especial de organizar
o nosso conhecimento. Segundo
esta, os fenômenos não
correspondem à simples
apreensão daquilo que
nos é dado na percepção
mas a uma organização
na qual está presente
a contribuição
do sujeito que percebe.
Kant tem em vista, sobretudo,
o conhecimento científico
pois seu problema resume-se em
explicar a validade da física
newtoniana. Sua pergunta se formula
deste modo: como se constitui
a objetividade, ou, ainda, como
se dá a possibilidade
de uma ciência como a física
de Newton?
Para Kant, o conhecimento válido
universalmente depende de certas
categorias que não provêm
da experiência. Assim,
por exemplo, o princípio
de inércia ou primeira
lei da física (“todo
corpo permanece em seu estado
de repouso ou movimento uniforme
retilíneo, a não
ser que atue sobre ele alguma
força”) repousa
num postulado, o da permanência,
que não vem da experiência. É a
categoria de substância que
me permite pensar essa permanência.
As afirmações desse
tipo Kant chama de “juízos
sintéticos a priori”.
Promoveu também uma reformulação
das categorias de Aristóteles,
formulando a sua própria
tábua de categorias.
Além destas, que denominou
de categorias do entendimento,
a organização do
conhecimento pressupõe
formas a priori da sensibilidade
(assim chamou os conceitos de
espaço e tempo).
Kant é o primeiro pensador
que valorizou devidamente a hipótese.
Louvando-se das experiências
levadas a cabo por Galileu, conclui
que os homens de ciência,
ao invés de se constituírem
em observadores passivos, obrigam “a
natureza a responder as suas
questões e não
a se deixar por ela conduzir”.
Assim, com o procedimento transcendental
Kant reformula inteiramente a
filosofia tradicional e para
ela estabelece um primeiro nível
de inquirição que,
mais tarde, seria batizado de
filosofia da ciência ou
epistemologia (teoria do conhecimento
científico).
Resolvido desta forma o problema
da distinção entre
a nova física e a filosofia,
Kant irá refutar a metafísica
tradicional. Comparou ciosamente
as provas e contraprovas da finitude
ou infinitude do mundo, da sobrevivência
da alma e da existência
de Deus para evidenciar que essa
discussão conduz a paralogismos
e antinomias. Essa parcela de
sua investigação
denominou de dialética,
constituindo a terceira parte
do livro.
Os estudiosos costumam chamar
de Primeira Crítica à investigação
que realiza da experiência
natural, na Crítica
da Razão Pura (1781)
e, de Segunda Crítica, à que
leva a cabo na Fundamentação
da Metafísica dos Costumes (1785).
Kant realiza ainda uma Terceira
Crítica, na obra que intitulou
de Crítica do Juízo (1790).
(Ver também KANT).
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