Dicionário das Obras Básicas da
Cultura Ocidental

Antonio Paim

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Comédias, de Shakespeare

Shakespeare escreveu doze comédias. A exemplo das tragédias e dos dramas históricos, os estudiosos estabelecem entre elas uma certa hierarquia. Seis delas seriam grandes comédias, bem entendido, estariam ao nível do seu autor, desde que de fato todas são muito apreciadas, têm um enredo intrincado e sempre acabam bem. As excepcionais seriam: Trabalhos de amor perdido; O sonho de uma noite de verão; O mercador de Veneza; Muito barulho por coisa nenhuma; Como gostais e Noite de reis. São os seguintes os títulos das demais: Os dois fidalgos de Verona; As alegres comadres de Windsor; Medida por medida; A comédia dos erros; A megera domada e Tudo está bem quando bem termina. Na comédia, como na tragédia resplandece o gênio Shakespeare.

Em muitos casos, as comédias consistem na reelaboração e enriquecimento de histórias consagradas que se preservaram e foram popularizadas depois do aparecimento da imprensa. Embora partindo da temática consagrada, como escreve Oscar Mendes, “Shakespeare deu-lhe mais complexidade, mais flexibilidade, mais fluidez, tornando-a um desfile variegado de surpresas, de inverosimilhanças, de intrigas que se complicam sempre mais, levando o espectador a um clímax de excitação e curiosidade ansiosa que somente o desenlace feliz, alegre, satisfatório, consegue aliviar”.

O tema dominante é sempre o amor, vítima de desencontros que suscitam confusões capazes de prender o público e também de diverti-lo grandemente. Noite de reis, que é incluída entre as “grandes comédias”, por todos os grandes estudiosos de Shakespeare, pode servir de exemplo do tipo de trama e das situações desencontradas. Dois irmãos gêmeos (Viola e Sebastião) acabam separados por um naufrágio e imaginam-se mortos, embora ambos hajam sido salvos, sem o saber. A moça, tendo perdido a oportunidade de entrar para o serviço de uma rica Condessa, disfarça-se com trajes masculinos e, nessa condição, provoca paixões. Até que o irmão reapareça e tudo torne-se claro, há outros equívocos de personalidade. Entram em cena tipos exóticos e equívocos paralelos ao central.

Ainda que em todas elas haja um toque de realismo, de modo a fazer crer que se trata de gente de carne e osso, as comédias são geralmente intemporais e sem representar lugares conhecidos, capazes de permitir comparações. Sua  ação transcorre em Cortes idealizadas, sem localização precisa. A única exceção dá-se no caso de As alegres comadres de Windsor. Segundo a tradição, esta última teria sido elaborada a fim de atender a uma sugestão da Rainha Elizabete I no sentido de que relatasse os amores de Falstaff, personagem que tanto sucesso alcançara nos dramas históricos.

Há ainda a observação de que nas comédias encontra-se a maior galeria de mulheres jovens e atraentes, criada por Shakespeare. (Ver também SHAKESPEARE, William e Tragédias, de SHAKESPEARE).

 

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