Dicionário das Obras Básicas da
Cultura Ocidental

Antonio Paim

Índice: a - b - c - d - e - f - g - h - i - j - k - l - m - n - o - p - q - r - s - t - u - v - x - w - z

 

(A) Cidade grega, de Gustave Glotz

Apareceu em 1958. Corresponde à aplicação do esquema marxista da luta de classes à civilização grega, na suposição de que esse esquema geral servisse para todas as circunstâncias inclusive o singular milagre grego.

Na perspectiva de Glotz, na Grécia formaram-se duas classes, a dos grandes proprietários e a grande massa trabalhadora onde mesmo os artesãos e camponeses livres mal se distinguiam dos escravos.  E, prossegue: essa situação teria durado indefinidamente, “se o regime econômico da Grécia não tivesse sofrido uma transformação completa, iniciada no século VIII”. Ao que acrescenta: “Até então, as cidades não dispunham, por assim dizer, de recursos outros que os oriundos da agricultura e da criação de animais; pode-se dizer que a estes só acrescentavam o lucro auferido com trocas e pirataria.  Mas sobrevem uma nova fase, em que os gregos se dispersam por todo o litoral do Mediterrâneo, em busca de novas terras e de novos clientes; entre as colônias e as metrópoles, circulam incessantemente produtos agrícolas, matérias-primas e bens manufaturados; o comércio e a indústria adquirem um ritmo inusitado; perto dos portos de grande movimento, multiplicam-se as oficinas e organizam-se os mercados. Assiste-se, desde então, a uma troca de mercadorias de qualidade inferior por algumas cabeças de gado ou utensílios de metal! É o reinado da moeda que começa a implantar-se. Com as cintilantes pecinhas de âmbar, de ouro e de prata, difunde-se o crédito e o gosto da especulação. Um capitalismo cada vez mais audacioso domina o mundo grego, deixando para trás a vida mesquinha dos velhos tempos.”

O esquema explicativo de Glotz está resumido nestes termos: “De maneira geral, a nova ordem econômica provocava rápido aumento nas classes inferiores e agravava-lhes a situação. À medida que os ricos se iam tornando mais ricos, mais se empobreciam os pobres... Estava constituído o exército da revolta. Impunha-se-lhe encontrar chefes. Uma elite, a burguesia, capaz pela bravura, pelos hábitos de trabalho, pela inteligência, de tomar a liderança ... colocou-se à frente da força que se lhe oferecia. Desde então a cidade viu-se claramente dividida em duas. Já se fora o tempo em que os descontentes se limitavam a gemer e a implorar os céus; os místicos cediam lugar aos violentos. Iniciava-se a luta de classes”.

Como se vê, segundo o esquema marxista não há nada de novo no reino da terra, nem mesmo capitalismo, burguesia e outras categorias típicas da Época Moderna.

 

 

 

Voltar