Dicionário das Obras Básicas da
Cultura Ocidental

Antonio Paim

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CHAUCER, Geoffrey

Geoffrey Chaucer nasceu em Londres, aproximadamente em 1342 e faleceu em 1400. Serviu à Corte em diversos postos oficiais tendo em seguida recebido a incumbência de missões diplomáticas na Espanha, França, Itália e Flandres. Esteve em estreito contato com a obra literária daquele período, em especial francesa e italiana. Traduziu autores dessa proveniência e também, como era habitual na época, produziu adaptações ou textos inspirados em tais fontes. Dois são os exemplos mais representativos dessa parcela de sua obra.

O primeiro corresponde à tradução de Le Roman de la Rose. Este poema alegórico subdivide-se em duas partes, de autores diferentes. A primeira, de Guillaume de Lorris, tendo aparecido, supostamente, nos começos do século XIII e, a segunda, de Jean de Meung, que a elaborou em fins do mesmo século. A primeira parte trata do amor cortesão e descreve o que seria o Jardim das Delícias. A segunda consiste numa sátira à elite do tempo. Quando de seu aparecimento, foi considerado imoral pelas autoridades francesas o que, como soe acontecer, serviu para dar-lhe certa notoriedade. No tempo de Chaucer (segunda metade do século XIV, praticamente uma centúria depois), admite-se que o livro não mais provocasse escândalo. Na altura, os ingleses ambicionavam incorporar a França em definitivo (estávamos em plena Guerra dos Cem anos, que durou de 1337 a 1453, com interrupções e diferentes graus de intensidade) e Chaucer pretendia torná-la familiar à nobreza inglesa.

Maior significado adquiriu sua aproximação aos autores italianos. A divina comédia, de Dante Alighieri, escrita entre 1307 e 1321, teria estimulado Chaucer a escrever na língua natal e não em latim, em conformidade com a tradição. Influência mais marcante proviria de Francesco Petrarca (1304/1374) e de Giovanni Bocaccio (1313/1375), autores que viveram e trabalharam em Florença, considerados precursores e pontos de referência da renovação literária ocorrida no Renascimento, pelo fato de que não se tenham limitado à recuperação das obras clássicas e as tenham divulgado, mas, sobretudo, por tomá-las como padrão de estilo literário.

Na esteira dessa influência, Chaucer escreveu o poema Troilus and Criseyde (1385), que os críticos consideram a sua obra prima. O tema é a fuga de Troilus, filho de Priamo, rei de Tróia, após a destruição da cidade. Não se vale contudo das fontes gregas inspirando-se em Virgílio (70/19 a.C.), que se incumbiu de difundir a lenda segundo a qual seriam remanescentes da Guerra de Tróia que deram origem à Itália. A exemplo dos italianos de seu tempo nos quais se inspira, Chaucer não deseja apenas cultuar as obras clássicas mas tomar ao seu estilo literário como padrão para refletir o próprio tempo. A esse propósito escreve Richard West, estudioso de sua obra: “Ainda que Troilus esteja situada no mundo antigo e soe como verdade em pleno século vinte, corresponde também à clara expressão do ponto de vista de Chaucer acerca da cavalaria com seu código medieval de conduta na guerra e no amor. ... Troilus combina a bravura do velho Cavaleiro com a exuberância juvenil de seu personagem para produzir o modelo de cavalaria cultuado por Chaucer. A evidente admiração com que Chaucer conta as proezas do seu herói nas batalhas põe em causa a teoria de que desaprovaria a guerra e a cavalaria” (Chaucer.1340-1400. The life and times of the first english poet; Klondo, Robinson, 2000).

Os Contos de Cantuária tornou-se o texto melhor sucedido de Chaucer. A convicção de Richard West de que seria o primeiro poeta inglês é partilhada pelo comum da crítica. Pelo fato de que sua obra serviu para fixar o dialeto de Midland como o inglês de sua época. (Ver também Contos de Cantuária, de CHAUCER)

 

 

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