Dicionário das Obras Básicas da
Cultura Ocidental

Antonio Paim

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(A) Canção de Rolando

A canção de Rolando é considerado texto representativo do chamado ciclo carolíngio da literatura medieval. Esta estaria constituída, basicamente, por poemas a serem recitados (ou cantados com acompanhamento musical) perante auditório que se admite seleto, formado por integrantes de determinadas Cortes. A julgar pelo que foi registrado e chegou até nós, estavam dedicados a exaltar grandes feitos, por isto batizados pelos eruditos de épica medieval. Pela ordenação alguns destes poemas destinavam-se a ser cantados, por isto chamados de canções de gesta, significando esta palavra "coisa feita" (ou ocorrência). Teriam portanto a pretensão de estar referindo fatos históricos.

O herói deste ciclo, Carlos Magno (742/814), insere-se na fase em que os chamados "bárbaros" que destruíram o Império Romano, convertidos ao cristianismo, devem enfrentar novo período de invasões. A canção de Rolando diz respeito ao enfrentamento dos árabes que terminaram por ocupar a Península Ibérica, de onde somente foram expulsos muitos séculos depois. Mas ocorreram igualmente invasões ao Norte (dos normandos, também chamados de vikings, que conquistaram as ilhas britânicas e parte da França) e no Centro. O grande estudioso da sociedade medieval, Marc Bloch, designou a esse período, que dura até a metade do século X, como "idade das trevas". Carlos Magno, que governou aquela parte que corresponderia à França a partir de 768, reconstituiu o Império (no ano 800) em grande parte do território da Europa Ocidental.

Embora existam outras versões de A canção de Rolando, o texto mais antigo é o existente na Biblioteca de Oxford, na Inglaterra, redigido em dialeto anglo-normando. Acredita-se que tenha sido escrito entre o final do século XI e meados do século XII. O enredo do poema tem por base a batalha de Roncesvales, ocorrida em 778, quando Carlos Magno tinha 36 anos de idade. O seu exército fora a Barcelona para tentar tirar proveito de uma cisão entre os árabes. A démarche não foi bem sucedida o que o fez regressar à França. Durante o regresso a retaguarda é dizimada pelos árabes, perecendo no combate o sobrinho do rei (Rolando, que dá nome ao poema) e um dignatário da Igreja (bispo Turpino).

Ainda que tome por base um fato histórico, a versão do poema é inteiramente fantasiosa. Carlos Magno é apresentado como tendo 200 anos. Os efetivos militares em disputa também são dimensionados de modo exagerado.

O poema está dividido em quatro partes: A traição (versos 1 a 1016); A batalha (versos 1017 a 2396); O castigo dos pagãos (versos 2397 a 3647) e o castigo de Ganelão (versos 3675 a 4002).

Em disputa pessoal com Rolando, o conde Ganelão, mandado negociar com os árabes, acerta com estes obter a divisão do exército, facilitando a sua vitória. De volta ao comando, convence Carlos Magno a retomar à França, onde os árabes irão prestar-lhe as devidas honras, deixando na retaguarda uma tropa comandada por Rolando. Atacada esta pelos árabes, Rolando reluta em pedir socorro a Carlos Magno, já que se achava em inferioridade numérica. Acaba entretanto por faze-lo mas não a tempo de sobreviver. Vindo em seu socorro a tropa de Carlos Magno dizima aos infiéis.

Admite-se que o poema tenha alcançado imensa popularidade notadamente na fase de sua transcrição, quando a Europa mobiliza-se para as cruzadas (Ver também Don Quixote, de Cervantes)

 

 

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