BERNSTEIN,
Edward
Edward Bernstein nasceu
em Berlim a 6 de janeiro
de 1850, numa família
judia. Concluiu o Ginásio
e estudou Contabilidade
e Economia. Ingressou
muito jovem, aos 22
anos, no Partido Social
Democrata. Trabalhava
então num banco.
Devido à vigência
das leis anti-socialistas,
sob Bismarck, emigrou
para a Suíça.
Ali trabalhou numa
revista socialista.
Mais tarde tornou-se
o responsável
pela revista teórica
da social-democracia
também editada
na Suíça.
Em 1888, devido às
exigências de
Bismarck ao governo
suíço,
mudou-se para Londres,
onde permaneceu até 1901.
Na capital britânica
mantinha estreito contato
com Engels, até sua
morte em 1895. Ainda
que sua crítica às
teses centrais do marxismo
se tenha desenvolvido
sob as vistas de Engels,
o fato não abalou
a confiança
e a amizade entre os
dois.
Bernstein apresentava
suas idéias
em forma de artigos,
inclusive na revista
editada por Kautsky. O
primeiro livro em que
sistematiza sua crítica
ao marxismo – e
propugna pela adequação
dos princípios
teóricos da
social-democracia à prática
reformista que vinha
seguindo –, apareceu
em 1901 e tinha por
título As
Premissas do Socialismo
e as Tarefas da Social-democracia.
A crítica de
Bernstein é suficientemente
ampla e diz respeito
a vários aspectos
do marxismo. Contudo
o mais relevante é que
se haja detido no exame
das crises cíclicas
do capitalismo para
concluir que aos sociais-democratas
não cabia esperar
por uma catástrofe
que criasse premissas
revolucionárias
capazes de levá-los
ao poder. Competia à social-democracia
seguir o caminho parlamentar,
promover alianças
com outras agremiações
e formular um programa
de reformas que assegurasse
a melhoria da situação
da classe trabalhadora.
Embora a prática
da social-democracia
seguisse esse caminho,
a linha reformista
proposta por Bernstein
foi condenada no Congresso
do PSD de 1903. Essa
condenação
não impediu
que os sociais-democratas
seguissem o franco
caminho reformista
e que os sindicatos,
sob sua liderança,
abandonassem a frascologia
revolucionária
e tratassem de obter
acordos vantajosos
para seus filiados.
Assim, ainda que a
análise do marxismo,
efetivada por Bernstein,
revista-se de grande
amplitude, sua contribuição
fundamental é no
sentido de atribuir
o devido relevo à atuação
parlamentar. Graças à sua
comprovada competência é que
esse caminho não
se revestiu do caráter
de simples pragmatismo,
alcançando o
merecido status teórico.
Somente no Congresso
do Partido Social Democrata
alemão de 1921
(o chamado Programa
de Gorlitz) é que
as idéias de
Bernstein são
consagradas. Ainda
assim, como não
merecessem a clara
adesão da Internacional
e Kautsky, em pleno
confronto com os comunistas,
não desejasse
desviar-se desse curso
principal, a superação
do abismo entre a prática
e a teoria ainda tardaria
muito, vindo a ocorrer
apenas em 1959. Então,
com a aprovação
do programa conhecido
como de Bad Godsberg,
a social-democracia
assume feição
própria renunciando à utopia
socialista e desistindo
de todo empenho de
salvar o marxismo,
através do revisionismo,
simplesmente deixando
de atribuir-lhe qualquer
primazia.
Bernstein refutou a
idéia de que
pudesse existir socialismo
científico.
O socialismo, a seu
ver, era uma aspiração
moral, inclinando-se
pela adoção
da moral kantiana,
cuja atualidade era
apontada na Alemanha
de seu tempo, graças
ao movimento filosófico
que passou à história
com a denominação
de neokantismo.
Bernstein acompanhou
permanentemente o comportamento
da economia capitalista.
Em relação à grande
indústria, registra
o fato de que sua escala
de produção
cresceu em proporções
inusitadas. No caso
da grande indústria
alemã, adquiriu
uma característica
que inviabiliza a hipótese
de estatizá-la:
tornou-se mundial.
Num dos escritos dedicados
a esta análise
pergunta: Pode o Estado
encarregar-se de empresas
que se apresentam como
competidores no mercado
mundial com seus produtos
e possibilidades de
exportação
e que desenvolve todas
as boas qualidades
da competição
moderna em sua luta
por vendas e encomendas?
Grande parte do bem-estar
social alcançado
por contigentes cada
vez mais expressivos
da sociedade depende
diretamente dessas
grandes indústrias,
que empregam verdadeiros
exércitos de
trabalhadores. Colocá-los
sob controle social
tornou-se uma questão
extremamente complexa.
Bernstein deu continuidade
aos estudos de Kautsky
acerca da agricultura.
Estatísticas
posteriores à obra
de Kautsky comprovam
a consolidação
das economias pequenas
e médias. “Na
agricultura”,
escreve, “tanto
a empresa pequena como
a média revelaram-se
como mais eficazes
e mais resistentes
do que supunha a social-democracia
anteriormente sob a
influência da
teoria econômica
marxista”. De
suas análises
retira a convicção
de que as vantagens
das economias menores
tornavam-se patentes
mesmo na pecuária.
Do curso concreto seguido
pela economia capitalista
resultou o aumento
numérico da
classe proprietária,
apesar de as grandes
fortunas terem aumentado
de forma extraordinária.
A elevação
geral dos padrões
de vida tampouco exclui
a massa trabalhadora. “Para
a classe operária
a situação
não está pior
do que antes”,
afirma.
Como se vê, Edward
Bernstein refutou aspectos
nucleares do marxismo,
não obstante
o que continuou dizendo-se
marxista, razão
pela qual os comunistas
batizaram-no de revisionista e
cuidaram de satirizar
tudo quanto lhes parecesse revisionismo,
transformando as doutrinas
de Marx numa espécie
de dogma intocável.
A par da atividade
teórica, Bernstein
foi deputado ao Reichstag
de 1903 a 1906, de
1912 a 1918 e de 1920
a 1928. Faleceu em
1932, aos 82 anos de
idade. (Ver também KAUTSKY,
Karl).
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