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Dicionário das Obras
Básicas da
Cultura Ocidental
Antonio
Paim
Índice: a - b - c - d - e - f - g - h - i - j - k - l - m - n - o - p - q - r - s - t - u - v - x - w - z
BUTLER, Joseph
Joseph Butler nasceu
em 1692 e foi educado
para tornar-se pastor
presbiteriano, tendo
para isso ingressado
na Dissenting Academy de
Tewkesbury. Essa Academia
era dirigida por Samuel
Jones, que veio a granjear
fama como educador.
Dentre os contemporâneos
de Butler nessa escola
muitos tornar-se-iam
personalidades destacadas
na religião
e na política.
Ao atingir a idade
adulta, decide contudo
optar pela Igreja Anglicana,
ingressando na Universidade
de Oxford, em 1715,
onde obteve o B.A.,
em 1718. Tinha então
25 anos. Nesse mesmo
ano é ordenado
diácono anglicano
pelo bispo Talbot,
que era o chefe de
uma família
ilustre, cujo filho,
Charles Talbot, seria
lorde Chanceler. Em
1719 foi nomeado Pregador
na Rolls Chapel em
Londres com o que se
inicia sua bem sucedida
carreira na Igreja
Anglicana. Foi sucessivamente
do círculo de
pregadores que atuavam
diretamente junto à Corte,
bispo de Bristol e
de Duham. Faleceu nesse último
posto, em 1752, com
a idade de 60 anos.
No ambiente valorativo
da observação
que era o da Inglaterra
de seu tempo, onde
o característico
consistia no empenho
de difundir o modelo
elaborado a partir
do conhecimento, Butler
estabeleceu uma distinção
fundamental entre o
plano da relação
com os objetos e o
plano (moral) das relações
entre os homens.
No primeiro caso, exemplificando
com os objetos circulares
(cadeiras, panelas,
etc.), entendia que
abstraímos dos
aspectos particulares
que os singularizam
para fixar o conceito, sem
referência ao
círculo perfeito.
Assim, nesta primeira
maneira de produzir
modelos a partir do
concreto, faz-se abstração
das formas acabadas.
Quando entretanto mobilizamos
o aspecto cognoscitivo
de nossa consciência
para ordenar as pessoas
com as quais lidamos,
embora a hierarquia
que venhamos a estabelecer
esteja igualmente vinculada
ao concreto, não
podemos prescindir
da idealização
do máximo de
perfeição.
A elaboração
de um ideal de pessoa
humana, escreve, realiza-se
segundo este último
procedimento.
Butler também
aponta para o respeito
que a lei moral infunde,
induzindo o homem a
segui-la.
Em suma, embora provavelmente
este não tivesse
sido o seu propósito,
deu uma contribuição
decisiva no sentido
de que a discussão
transitasse definitivamente
para o plano teórico.
Não se trata
mais de efetivar pregações
de cunho moralizante – como
era o propósito
da grande maioria dos
autores que lhe precederam,
mas de determinar o
que se deve entender
por moral social. Ainda
que não tivesse
cabido a missão
de formalizar a nova
disciplina, já agora
lidamos diretamente
com a ética
social.
Em sua atuação
como pregador, Butler
certamente há de
se ter comportado como
um moralista, a exemplo
do tom geral do debate
de então. Ainda
assim, nos sermões
que selecionou para
publicação
em 1726, o que sobressai é a
preocupação
de dar encaminhamento
teórico à questão.
Interessa-lhe muito
mais identificar quais
são os princípios
que podem ser apreendidos
da análise do
comportamento moral
dos homens do que dizer
a estes o que devem
fazer.
Nessa análise,
talvez o seu sucesso
encontre-se no fato
de que buscou dar seguimento à tradição
empirista da cultura
do seu país,
ao invés de
popularizar as idéias
dos estudiosos antigos.
Examinando-se o curso
real da história
humana, que podemos
verificar de concreto? – eis
a temática que
busca desenvolver.
Por esse caminho Butler
evita também
a discussão
do problema clássico
do estado de natureza,
que se revelaria uma
hipótese sem
grande valor heurístico
e acabava forçando
uma opção
dogmática acerca
dos motivos que teriam
levado o homem a abandonar
aquela idílica
idade de ouro.
A obra de Butler é portanto
uma tentativa de averiguar
empiricamente quais
os princípios
que norteiam as ações
morais dos homens quando
em sociedade. Lançou-se à investigação
do homem enquanto ser
moral plenamente consciente
de que não há um
conceito acabado do
homem, encarado desse
ponto de vista. Propõe-se
incluir aos homens,
inclusive a si próprio,
numa série,
com o propósito
de detectar aqueles
traços que corresponderiam
ao modelo ideal. Contudo,
tem presente que não
estará realizado
em qualquer homem.
Finalmente, tem presente
que a ciência
moral é de uma
natureza peculiar e
não pode ser
equiparada às
outras ciências.
Assim, conclui, “os
gases ideais da física
ou os círculos
ideais da geometria
podem ser chamados
de “ideais puramente
positivos”, devendo
ser contrastados com
o ideal de uma natureza
humana que é contemplado
pela ética”.
A partir de tais parâmetros,
Butler distingue quatro
elementos determinantes
das ações:
I) Paixões
particulares ou afeições.
Sob essa denominação
compreende tudo aquilo
que chamaríamos
de preferência
ou aversão:
fome, apetite sexual,
raiva, inveja, simpatia
etc. Algumas dessas
afeições
beneficiam à própria
pessoa e outras aos
demais.
II) O princípio
do amor próprio,
equivalente a tendência à obtenção
do máximo de
felicidade para si
próprio no curso
de nossas vidas. É essencialmente
um princípio
de cálculo racional
que nos leva a refrear
os impulsos particulares
e a coordená-los
de forma a maximizar
nossa felicidade total,
no longo prazo.
III) O princípio
geral da benevolência.
Trata-se também
de um elemento racional
direcionado para a
obtenção
da felicidade geral;
e,
IV) O princípio
da consciência,
que é o elemento
supremo.
Os sermões de
Butler apareceram em
1726 sob a denominação
de Fifteen Sermons
Preached at the Rolls
Chapel. Os sermões
sobre a natureza humana – têm
essa denominação
na edição
original – são
os três primeiros.
Mais tarde, em 1736,
publicou The Analogy
of Religion, que
inclui outro texto
(A Dissertation
Upon Virtue) que
também se considera
expressivo de suas
idéias. Suas
obras foram coletadas
por Samuel Halifax,
bispo de Gloucester,
em dois volumes e publicadas
em 1786. Precisamente
um século depois,
em 1896, W. E. Gladstone
promoveu uma nova edição
(The Works of Joseph
Butler, 2 vols.).
Edições
autônomas dos
sermões aparecem
em 1900 (J. H. Bernard)
e em 1914 (Dean Mathews).(1)
É naturalmente muito difícil averiguar-se o impacto dessa ou
daquela obra num período histórico de que estamos tão
distanciados. Contudo, é fora de dúvida que o sentido principal
do debate, nas duas décadas subseqüentes, seguiu o caminho apontado
por Butler, isto é, o de preferir-se a averiguação teórica à pregação
de índole moralizante. (Ver também Sermões, de BUTLER,
Joseph e HUME, David e KANT).
(1) A
edição
recente tem esta
referência: Butle’s
Fifteen Sermons
and a Dissertation
of the Nature of
Virtue, edited
with na Introduction
by T. A. Roberts.
London, S.P.C.K.,
1970.
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