BERLIN,
Isaiah
Nasceu em Riga, Letônia, em 1909, quando aquele país báltico
pertencia ao império russo. Com a queda da monarquia em fevereiro de 1917,
a família transferiu-se para a capital (São Petesburgo). Seguindo-se,
em novembro, a tomada do poder pelos comunistas e estabelecendo-se clima de perseguição
policial, seus pais optaram por emigrar para a Inglaterra. Estávamos em
1919 e Isaiah Berlin tinha apenas 10 anos de idade. De modo que foi educado na
pátria por adoção e acabou tornando-se um dos mais destacados
representantes da intelectualidade inglesa do século XX. Esteve ligado à Universidade
de Oxford por mais de 60 anos, como aluno, professor e presidente de um dos College.
Recebeu diversos prêmios literários e títulos honoríficos
das Universidades de Yale, Harvard, Cambridge, Atenas, Bolonha e Toronto, entre
outras. Foi presidente da Academia Britânica. Faleceu em 1997, aos 88 anos
de idade.
Isaiah Berlin notabilizou-se como conferencista e ensaísta. Mas durante
largo período não atribuiu maior importância à reunião
em livro dos ensaios e conferências. Até os começos da década
de setenta limitou-se à publicação de Quatro ensaios
sobre a liberdade e Vico e Herder. A partir de 1974, contudo,
encontrou um editor que se desincumbiu da tarefa. Logo apareceram, em 1978, Pensadores
russos, Conceitos e categorias, Contra a corrente e Impressões
pessoais. Esse trabalho editorial teve prosseguimento para incluir textos
inéditos e correspondência, alcançando no conjunto quinze
volumes. Ao completar 70 e 80 anos, respectivamente em 1979 e 1989, apareceram
coletâneas de artigos em sua homenagem, iniciativa que permitiu situá-lo
como filósofo e historiador das idéias.
Berlin popularizou o entendimento do papel do Estado Liberal de Direito, que
remonta a Kant, através do conceito e liberdade negativa, contribuindo
para o aprofundamento da doutrina liberal nesse particular. Kant indicara que
ao Estado incumbia assegurar as condições para o exercício
da liberdade de cada um – limitada pela liberdade dos outros –, sem
entretanto pretender impor qualquer espécie de entendimento do que seja
felicidade, questão que deve ficar adstrita ao indivíduo. O aparecimento
dos chamados direitos sociais, e sobretudo o uso da palavra democracia por correntes
de pensamento ou entidades estatais francamente totalitárias, exigiram
o reexame do palpitante tema.
Berlin indicou que as condições para o exercício das liberdades
são certamente essenciais. Contudo, trata-se de um lado da questão.
A liberdade precisa estender-se à escolha dos valores a que o indivíduo
prestará reverência, pelo fato de que há nitidamente conflitos
de valores.
Autor de Isaiah Berlin: uma vida (tradução brasileira,
Record, 2000), Michael Ignatieff, a esse propósito, escreve que “a
liberdade negativa era o núcleo de um credo político corretamente
liberal: deixar os indivíduos em paz para fazerem o que quiserem, contanto
que sua liberdade não interfira na liberdade dos outros”. Contudo,
adverte, seguindo ao biografado, a liberdade positiva tornou-se o núcleo
das doutrinas socialista e comunista que afirmam acreditar na possibilidade de
fazer com que os seres humanos libertem algum potencial oculto, bloqueado ou
reprimido.
Acontece que, segundo Berlin, há um irremediável conflito de valores,
a começar mesmo dos ideais de justiça, liberdade e igualdade. É inútil
pretender que o indivíduo possa saltar por cima deles, incumbindo-lhe
simplesmente correr o risco do exercício da sua liberdade sem delegar
essa decisão a outras instâncias, quaisquer que sejam, inclusive
estatais. Esclarece num de seus ensaios: “Se a minha liberdade, ou a da
minha classe ou nação, depende da miséria de vários
outros seres humanos, o sistema que promove isso é injusto e imoral. Mas,
se eu perco a minha liberdade a fim de reduzir a vergonha dessa desigualdade,
e com isso não aumento materialmente a liberdade individual de outros,
ocorre uma perda absoluta de liberdade”. Assim, toda opção
política envolve perda, correspondendo a uma falácia a hipótese
comunista ou socialista de que pode conciliá-los. Por isto, a preferência
deve cair sobre os regimes que claramente optaram pela liberdade negativa.
Como esclarece Ignatieff, Berlin não era nem conservador nem individualista
do tipo “laissez-faire”, preferindo classificá-lo como “um
liberal do New Deal, convencido de que os indivíduos não podiam
ser livres se fossem pobres, miseráveis e subeducados”. A liberdade
que preconizava pressupunha os níveis de igualdade social alcançados
nos países desenvolvidos do Ocidente.
Juntamente
com Karl Popper, Isaiah
Berlin tornou-se um
dos campeões
da luta contra o totalitarismo
soviético. Ambos
tiveram a ventura de
assistir ao fim do
comunismo, o que não
deixava de ter representado
uma vitória
dos ideais a que dedicaram
suas vidas.
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