BACON,
Francis
Nasceu em Londres,
em 1561, estudou em
Cambridge e exerceu
altos cargos no
governo, sendo inclusive
Lorde Chanceler no
reinado de Jaime I,
que subiu ao tronocom
a
morte de Elizabete
I, em 1603. Bacon faleceu
em 1626, aos 65 anos
de idade, um ano depois
de
Jaime I.
Francis Bacon dá início
a uma linhagem da Filosofia
Moderna que muito prosperou
na Inglaterra. Enfrentou
a questão teórica
da experiência,
que não era
valorizada pela
Escolástica
Medieval, que, entretanto,
passou a revestir-se
de palpitante atualidade
com os
descobrimentos e a
nova “visão
do mundo” que
se adquiriu, francamente
contraposta à
tradição.
Na Escolástica,
a grande preocupação
era com a precisão
conceitual, acreditando-se
que a experiência
(sensível e
pessoal) podia apenas
proporcionar casos
isolados, impossíveis
de
serem generalizados.
O método então
preferido era a disputa
teórica, travada
nos marcos da
lógica aristotélica.
Acontece que a navegação
vinha refutando a Geografia
de Ptolomeu,
justamente um dos pilares
da Escolástica.
A obra de Ptolomeu
foi recuperada com
a descoberta dos textos
clássicos e,
progressivamente, alcançou
grande nomeada. Não
se dispõe de
maiores indicações
sobre a sua
vida, mas supõe-se
que haja trabalhado
no Museu de Alexandria
no século II
de nossa era.
Admite-se que tenha
nascido no ano 100
e falecido em 170. É autor
do Almagest, que se
considera um compêndio
completo dos conhecimentos
astronômicos
acumulados pelos gregos
e desenvolvidos no
Museu até os
seus próprios
dias.
Acerca da Geografia
assim se manifestam
os autores da História
da Ciência da
Universidade de Cambridge: “Sua
Geografia ou Geographike
syntaxe era uma tentativa
de
mapear o mundo conhecido,
e maior parte do texto
consiste em uma lista
de lugares, com suas
latitudes e longitudes,
um sistema de coordenadas
que já existia
pelo menos desde o
tempo de
Eudoxio, mas que nunca
havia sido tão
amplamente aplicado.
O livro era acompanhado
de
mapas, mas, uma vez
que tantos erros podem
ser cometidos quando
se copia um livro a
mão,
como se fazia nos dias
anteriores à impressão,
Ptolomeu, sabiamente,
deu instruções
que
permitissem ao copista
reconstitui-lo integralmente.
Também deu alguns
conselhos práticos
corretos sobre a projeção
de mapas, isto é,
sobre como representar
a superfície
curva da Terra
em um mapa plano, como
talvez devêssemos
esperar de alguém
que tivesse escrito
um texto
matemático sobre
o assunto. Certamente,
o trabalho continha
erros, e os mapas de
Ptolomeu
representavam inadequadamente
as áreas além
dos limites do Império
Romano, mas isso de
maneira alguma deprecia
o que foi uma compilação
monumental, muito mais
ampla que
qualquer outra feita
antes dela”.
(Obra citada, trad.
brasileira, ed. Círculo
do Livro, Jorge Zahar
Ed., São Paulo,
1987, vol. I, p. 129).
A visão dos
próprios navegadores
não podia, entretanto,
ser tão favorável
porquanto a par das
observações
científicas
que incorpora, reuniu
também toda
uma série de
suposições
arbitrárias,
como a fixação
dos limites acessíveis
da terra na altura
do cabo Bojador,
a noroeste do deserto
de Saara; a inabitabilidade
da zona equatorial;
a fertilidade do solo
e a
vida edênica
nas Canárias;
a existência
de ouro à superfície
das praias africanas,
etc. As
observações
diretas levaram à fixação
de novos contornos
e, ao mesmo tempo, à crítica
do
passado.
É bem
representativo do novo
estado de espírito
o seguinte trecho de
uma obra
escrita entre 1480
e fins do século – As
relações
do descobrimento da
Guiné e das
ilhas dos
Açores, Madeira
e Cabo Verde, de Diogo
Gomes; “E estas
coisas que aqui escrevemos
se
afirmam salvando o
que disse o ilustríssimo
Ptolomeu, que muito
boas coisas escreveu
sobre a
divisão do mundo,
que porém falhou
nesta parte. Pois escreve
e divide o mundo em
três partes,
uma povoada que era
no meio do mundo, e
a setentrional diz
que não era
povoada por causa do
excesso de frio, e
da parte equinocial
do meio-dia também
escreve não
ser habitada por motivo
do extremo calor. E
tudo isso achamos ao
contrário, porque
o polo ártico
vimos habitado até
além do prumo
do polo e da linha
equinocial também
habitada por pretos,
onde é tanta
a
multidão de
povos que custa a acreditar...
E eu digo com verdade
que vi grande parte
do
mundo”. (Apud
Antonio José Saraiva – História
Da Cultura em Portugal.
Lisboa, Ed. Jornal
do Foro, 1955, vol.
II, p. 455).
Registra-se que, apenas
no período indicado,
a Geografia de Ptolomeu
merecera
seis edições
em latim – impressas
em Bolonha entre 1478
e 1490. Seu prestígio
advinha
sobretudo do geocentrismo
então consagrado
como uma espécie
de parcela complementar
do
sistema aristotélico.
Que significa precisamente
este ver grande parte
do mundo? De que valor
se
revestiam as observações,
solenemente ignoradas
na tradição
escolástica?
Esta questão
se torna
precisamente um dos
pontos de partida da
Filosofia Moderna.
Na época de
Bacon, isto é,
nas
décadas iniciais
do século XVII,
intervêm nessa
discussão Descartes
e Galileu.
Bacon considera possível
fazer com que as observações
adquiram validade plena
tornando a indução
absolutamente rigorosa.
Como a lógica
de Aristóteles
repousava na
dedução – e
todo o conhecimento
válido, em seu
tempo, deveria revestir-se
dessa característica,
isto é, ser
deduzido do conceito – imaginou
que se tratava de formular
uma nova lógica.
Por
isso denominou sua
obra fundamental, aparecida
em 1620, de Novum Organum.
Os livros
lógicos de Aristóteles
estavam sob a denominação
geral de Organum.
Segundo seu entendimento,
a questão limita-se
ao estabelecimento
de regras
rigorosas para a efetivação
de inferências
partindo da observação
do particular. Supunha
que o
vício sobre
o qual repousa a indução
incompleta consistia
em reduzir-se a uma
indução
por
simples enumeração,
isto é, limitando-se à comprovação
da existência
de uma qualidade numa
série algo extensa
de fenômenos
ou objetos, na ignorância
dos fatos negativos.
Para torná-la
efetiva, preconizava
a organização
das chamadas tábuas
de presença,
de ausência e
de graus, no
exercício da
indução
incompleta. Seu fundamento
reside na íntima
conexão entre
a forma
(essência ou
lei) e a natureza (propriedade
do corpo ou fenômeno).
Eis a regra geral por
ele
estabelecida: “Todas
as vezes em que está presente
uma o mesmo ocorre
com a outra e, quando
falta uma, falta outra”.
Na tábua de
presença devem
ser anotados os casos
em que se encontra
o fenômeno
pesquisado com a segurança
de que inserem a correspondente
forma. Os casos estudados
devem ser os mais diversos
para que sobressaia
a nota essencial a
ser identificada. A
diversidade de circunstâncias
tornará possível
a eliminação
das notas que somente
se achem em
alguns casos. Contudo,
a tábua de presenças,
por si só, não
assegura a legitimidade
da
conclusão. Para
tanto incumbe uma outra
tábua, a das
ausências. Nestas
serão assinalados
os
casos que os assemelham
aos anteriores mas
nos quais esteja ausente
o fenômeno que
investigamos. Finalmente,
na terceira tábua,
indicar-se-á diferença
de graus.
Francis Bacon é autor
de obra volumosa, que
abrangeu 14 volumes
quando se
tratou de reuni-la
(Works, London, 1858-1870).
Escreveu em latim e
em inglês. Seu
texto
capital é contudo
o Novum Organum, que
denominou também
de Verdadeiras indicações
acerca da interpretação
da natureza.
Ainda no século
XVII, a questão
proposta daria lugar à delimitação
do tema da
gnoseologia (teoria
do conhecimento), na
obra de Locke, a partir
de quem se torna uma
questão
central para a filosofia
inglesa. (Ver também
Discurso do método,
de DESCARTES;
GALILEU e LOCKE).
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